sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

o dia em que vi madonna


Eu nunca fui fã. Nunca vi a menor graça em ver bibas tresloucadas histéricas com o primeiro acorde de Like a Prayer. No máximo, observei meninas posarem de sensuais ao som de Like a Virgin (algumas fingindo). Mas, como jornalista, acompanhei um escândalo e outro na mídia, assisti aos clipes de forte apelo erótico e, claro, seus filmes. A verdade é que ela estourou no mundo no mesmo ano em que eu nasci. E, por isso, pouco acompanhei aquele início. E pouco me importei com sua carreira, suas músicas e sua vida. Nas últimas semanas, porém, o assunto vinha à tona freqüentemente. Li matérias mil e fiz algumas - do aviso do show, ao incompetente sistema de vendas, e, enfim, sobre a chegada dela. Pois ontem eu vi Madonna.
A expectativa começou cedo. Sucessivas reuniões me fizeram sair com atraso e o trânsito me preocupou. No fim das contas, tudo deu certo. Cervejinhas antes de entrar, bora conferir o Morumbi. O espaço dos são-paulinos estava tomado. Arquibancadas, cadeiras e pista lotada. Todos por Madonna. Evidentemente que nem todos fãs. Como eu, havia outros tantos ali apenas pela expectativa de entender como uma mulher de 50 anos leva tanta gente à loucura. Como uma mulher aos 50 anos se esparrama pra lá e pra cá com uma facilidade de dar inveja a tantas menininhas. Tudo isso se confirmou ontem. O atraso, de mais de uma hora, aumentava a ansiedade. 'Pera Pedro. Não pira. Você não é fã da Madonna, lembra?'
Bom, às 21h50 as luzes se apagaram. Imagens apareciam freneticamente de um cubo imenso, que começa a subir... e de dentro dele, sai ela, Madonna. De um trono, com pose de rainha sexy. Luzes e luzes (de máquinas e aquelas coisas que os cambistas vendem) iluminavam todo o Morumbi. Era impossível não ficar estático com aquela cena. No palco, ela. No estádio, 67 mil pessoas pareciam não acreditar no que viam. E no que ainda estava por vir.
O show de Madonna é uma experiência à parte. E surpreendente. É megaprodução, com tudo o que uma rainha do pop pode ter. Tem blocos desprezíveis, como a parte cigana - mas até esta tem a bela cena de You Must Love Me, acompanhada ao violino. Há uma sequência de clichês também. Em Get Stupid, telões misturam imagens de guerra e fome para depois saudarem Obama, Gandhi e outros supostos ídolos dela. É chegada um dos ápices da apresentação. Os 25 anos de carreira se transportam em imagens no telão, que repassam todas as suas fases, de Like a Virgin, passando por Ray of Light, Music e Confessions. Madonna ao microfone brada, Shes Not Me. Eis que quatro sósias surgem no palco, representando estas fases. Madonna desmascara uma a uma - como que lembrando que o posto de rainha é dela, e que as outras tantas que tentarem ser como Madonna jamais chegaram (ou chegarão aos seus pés). O beijo caloroso na boca de uma delas, leva os muitos gays e lésbicas ao delírio.
Mas Madonna não é apenas do público gay. Havia famílias aos montes no Morumbi ontem. Eu, acompanhei de cima de uma caixa/banquinho que um inacreditável vendedor cedeu a mim. Dividi o privilegiado espaço com o filho da Hortência, que acompanhava, mãezona, faixa a faixa.
Após quase duas horas, ela surge com a camiseta do Brasil para se despedir. E dançar mais um pouco. E como dança, meu deus... É de uma forma física absurda, uma dançarina de primeira.
Antes do bloco final, ela havia feito um de seus melhores números. Ao pedir para que um fã escolhesse uma música, o mesmo não titubeou: Like a Virgin. Apenas ao violão, ela cantou verso a verso acompanhada de um emocionante coro de 67 mil pessoas. Foi impossível não pirar naquela viagem. É impossível não ceder aos pedidos dela. É impossível não entender aquele universo. Madonna é uma só. É única. É o pop puro, com todos os recursos, em forma de uma mulher diminuta, de 1,65 de altura. Mas de incomensuráveis metros de majestade. Podem dizer que ela faz playback ou que ela é fake. Ela, como pouquissímas, tem esse direito.

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