sábado, 31 de outubro de 2009

direto da mostra

o longa 'bollywood dreams - o sonho bollywoodiano', de beatriz seigner, com nataly cabanas, paula braun e lorena lobato, está na final do troféu bandeira paulista da mostra de cinema.

trilha de um sábado de sol

domingo, 25 de outubro de 2009

cabeças amarelas


Lembro-me da primeira vez que tive contato com os trabalhos dos irmãos gêmeos, Otávio e Gustavo Pandolfo. Foi com a Dri e a Bonelli, numa tarde de sábado. Eles estavam com uma individual na Fortes Vilaça. Gostei daquelas cabeças amarelas e achatadas de imediato. De volta à cidade, além das intervenções urbanas que a prefeitura não apagou, eles inauguraram ontem 'Vertigem', no Museu da Faap. E mostram que a marca osgemeos não cansa de se renovar. Ou será que é preciso renovar? Ainda que se atualizem, as características fundamentais do seu trabalho permanecem. Ao som de Siba na abertura, ficava ainda mais claro o quão Brasil e regional são seus trabalhos. Mas a viagem desses irmãos também é urbana, como mostra a foto acima, um dos trabalhos expostos. Um trabalho de respeito.

um dia de Tremendão

Em casa, ouvia na minha infância muito mais 'Festa de Arromba' do que 'Emoções'. O Tremendão Erasmo Carlos estava, de alguma forma, à frente do Rei Roberto Carlos. Criei na minha cabeça que Erasmo era muito mais familiar que o Roberto. O jeito riponga, debochado, meio cafajeste me parecia mais autêntico (e interessante) que os ternos brancos (ou azuis) daquele que embalou todos os Natais da família. Eu vislumbrava em Erasmo uma figura paternal.
Há duas semanas me encontrei com Erasmo. E desde o instante que pensei na possibilidade de vê-lo ao vivo me lembrava dele. Das fotos com as calças boca de sino, o cabelo desgrenhado, o óculos meio John Lennon. Um hippie parado no tempo. Estar de frente com Erasmo era ir de encontro ao passado. Uma sensação de viver com ele os anos 60 e 70...
Aos 68 anos, Erasmo fuma um cigarro atrás do outro. Me pergunta se me incomodo. Digo que não. "Essa cidade está ficando um porre com esse monte de lei", falo, numa expectativa de quebrar o clima. E ele me diz que "é bicho, está complicado". E mais uma vez penso que "caceta, é ele".
Conversamos sobre sua volta às guitarras e as diferenças com Roberto. No ano em que só se falaram dos 50 anos do capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, ele lembra que "curioso como tanta gente dessa cidade cruzou meu caminho". Diz que os seus 50 anos serão comemorados no ano que vem. Comemorados como? "Não sei. Eu não tenho que comemorar nada. Vou esperar me chamarem. O Roberto não fez nada, quem fez foi o Itaú".
Erasmo recorre invariavelmente ao assistente que o acompanha há tantos anos na turnê sempre que sente que falou algo bonito, que poderá ser utilizado outrora. É uma piada interna. "Anota aí", ele diz umas quatro vezes. Debochado, como ele... Acha interessante quando diz que "o tesão no palco é como uma mulher nova". "Anota aí", repete.
O Tremendão aponta o dedo na cara da geração mais nova. Diz que "hoje ninguém mais desafina" e que "a tecnologia prostituiu a emoção". Falta-lhes vivência, pondera. "Essa geração não canta o que sente ou o que viveu". Rebato que, portanto, hoje ele escreve melhor do que seus 20 e poucos anos. Acuado, solta apenas um "não sei". Mas reconhece que os trancos da vida lhe tiraram a tal ingenuidade. E não só. Diz que sente saudades da época em que a parte física e mental andavam em conjunto.
Lembrou de Raul, Tim Maia, Ben Jor, e, claro, o amigo de fé e irmão camarada, o Rei. Brinca que se juntassem todos eles estaria formado o Beatles brasileiro. E volta atrás, logo em seguida. "Não ia durar muito tempo. Ia ser um duelo daqueles...".
Eu agradeço a entrevista. Peço para registrar aquele momento. E lembro a ele que era um prazer entrevistá-lo. Era como se estivesse diante da figura que mais me lembra ele. Meu pai. E, de certa forma, estava.

pensamentos de luiza


"Mas às vezes um revés é apenas um revés. É comum ficarmos sem compensação nenhuma para um desastre, uma agressão, um erro, uma doença, o fim de um amor, a perda de uma pessoa amada. É uma questão de perspectiva, ou de fé. Nascemos com um prazo limitado para interpretar o mundo. Fazemos o que podemos. O legado de todos que nos precederam nesse esforço pode ajudar ou confundir, e em última instância ninguém nunca prova nada. Atribuir um propósito superior a um lance qualquer da vida é construir uma ficção muito pessoal. Dar sentido ao mundo é um ato criativo. Uma visão de mundo é uma narrativa".
(trecho de 'Cordilheira', de Daniel Galera)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

bom dia

joia de cartola sob a voz de nilze carvalho e o dispensa comentários grupo semente.

becos da vida


Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu (Chico Buarque)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Feira eleitoral

E a campanha eleitoral enfim começa a dar as caras. O tucano José Serra já começou a veicular campanhas de sua gestão em São Paulo. O PT, por sua vez, ainda não coloca sua candidata, a ministra Dilma Roussef, na telinha. Mas também já insere publicidade sobre suas ações em território paulista. Ciro Gomes, do PSB, ainda é possível candidato a governo pelo PT - mas será mesmo que o diretório estadual vai aceitar? Trata-se de peças publicitárias para começar a alertar o eleitorado paulistano para a briga maior de 2010, o cobiçado posto de Lulinha, 'he's the guy'. A disputa para abocanhar o peixe só começou. E ainda tem Marina Silva pelas beiradas.

viver a vida

"Não se esqueça de colocar como endereço desse cofre a data do seu casamento. E depois, quando estiver longe daqui, com ou sem filhos, coloque a data da sua separação. Porque isso, um dia, fatalmente vai acontecer. Lembre-se, são duas datas que uma mulher nunca esquece: a do casamento e a do divórcio"

sofisticado é ser simples

"e mesmo que falte a coragem, ou sobrem, sobrem palavras tolas/ a gente pode rir, ou até mesmo chorar"

Dói - Letra e música: Fernando Catatau (Cidadão Instigado)

coisas de um feriado

Sexta foi dia de ver Ana Cañas no Tom Jazz. Entre algumas escolhas óbvias - a exemplo de 'Metamorfose Ambulante' - e outros bons achados, a garota rebelde até que mandou bem e segurou a onda, sem repetir a gafe (e o porre) da estreia no Canecão. Depois de algumas doses de Black Label, foi a vez de seguir o caminho com Ju Vettore no Berlin e descobrir um bom trio, o Suíte, com repertório francês e boa atuação de Isabela Lages - recomendadissímo. Sábado muitas pretensões - e muita preguiça. A ideia era ir ao cinema ver 'Bastardos Inglórios', seguir para o Teatro Anchieta ver 'A Falecida', de Antunes, e então partir para a Choperia do Sesc ver Cidadão Instigado. Só saí de casa para cumprir a terceira missão. O show concorrido certamente já está entre os melhores do ano - mesmo com o 'piti' de Catatau já no bis com a equipe de som. E já que estamos na pista bora pra uma 'festa x com uma turma x' na Lapa. Domingo a dor de cabeça batia, mas já tinha um churras programado, então... Lá fomos. E manda ver cerveja, batida, carne, pão e mais música pra turma. E ainda bem que existia a segunda-feriado com cara de domingo para recuperar as energias. Depois de um almo-lanche monstruoso no Chicohamburger, morri. Hoje só amanhã!

receita infalível

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

indicação

"Trilha desmatada com mel"


reportagem de CLARA BECKER na edição de outubro 2009 da Revista PIAUÍ sobre Marinete, a depiladora de elite. Vale também ler o perfil de José Serra, pela jornalista Daniela Pinheiro. Segue abaixo uma amostra da reportagem da concorridíssima Nete.

"É aqui mesmo?", perguntou o motorista. O táxi tinha parado diante de uma birosca, ao lado de um beco, da estrada Santa Marinha, ao pé da favela Vila Parque da Cidade. Era lá mesmo. Dali para a frente, a cantora Nina Nunes teria que subir o morro a pé, que tem uma fronteira imprecisa e porosa com o bairro da Gávea, na Zona Sul carioca. Pela primeira vez a cantora galgou os degraus de cimento que serpenteiam pela Vila Parque adentro, formando um labirinto errático de ruas asfaltadas e prédios (que pagam o iptu) e vielas entupidas de barracos (irregulares e ilegais).

Nina Nunes ia à casa da Nete. Lá em cima da Vila Parque, como cá embaixo no asfalto, incluindo endereços de iptu mais caro do Rio, Nete é um nome que abre muitas portas e pernas. Fora do morro, suas freguesas, por mais famosas ou abastadas que sejam, lhe confiam segredos que não abrem nem para psicanalistas ou para revistas de celebridades.

Nete é Marinete Campos, uma depiladora de mão cheia, dona de uma agenda que é um verdadeiro quem-é-quem na selva de virilhas da alta roda carioca. Seus preços são cabeludos, mas ela cobra só a metade das clientes que se disponham a subir o morro. E Nina estava precisando de uma boa poda nos gastos. Nete, que é também manicure e pedicure, atendeu-a em seu apartamento com chão de tábuas corridas e móveis de madeira clara da rede de lojas Tok & Stok.

Pior, disse a cantora, seria passar pela experiência excruciante em mãos menos hábeis. Entre um gemido e outro, Nina contou a Nete durante a sessão que estava numa fase de aperto. Sua pequena empresa acabara de quebrar e ela juntara dívidas. A depiladora ofereceu-lhe, na hora, um empréstimo de 10 mil reais, com prazo a perder de vista e sem juros. Nina recusou a oferta. E Nete, uma mulher de 43 anos e cabelos castanhos alisados, com a aparência de quem já teve uma vida dura, e o leve excesso de peso de quem agora leva uma vida farta, honrou a fama de ser bem mais que uma prestadora de serviços supérfluos.

"Todas elas desabafam", disse a fada do mel. Durante as sessões, elas comentam, sobretudo, problemas com marido e filhos. Quando a conversa escorrega para dificuldades financeiras, Nete sempre se oferece para ajudar. "Já peguei muito dinheiro emprestado com as clientes", explicou, "mas hoje eu também empresto dinheiro para elas, inclusive para gente famosa." Seu tom, nessas ocasiões, não é o de quem fala da vida alheia, e sim de quem trata de investimentos e negócios.

E os negócios, no seu frondoso ramo, se desenvolvem na velocidade do desmatamento da Amazônia. É o que informa a oitava edição do livro Depilação: o Profissional, a Técnica e o Mercado de Trabalho, de Ateneia Feijó e Isabel Tafuri, editado pelo Senac. Ele esclarece que a depilação "já conquistou o seu lugarzinho, por menor que seja, na história da economia deste país". Tornou-se "coisa séria e valorizada". Por isso mesmo é uma arte vedada a qualquer manicure "que queira sair por aí arrancando pelos a torto e a direito". "Não, não e não", proclama o manual.

No Rio, formam-se por ano 1 200 depiladoras só no curso do Senac. Elas competem por salários de, em média, 1 500 reais por mês. Mas Nete já deixou essa mata espessa há muito tempo. Ganha quatro vezes mais que a tabela. Tem quarenta clientes de fé, que pagam 70 reais por seus serviços de manicure e pedicure. E cobra 140 reais pela depilação do corpo inteiro, tosa que inclui sobrancelha, buço, axila, perna e virilha.

Suas tarifas, às vezes, oscilam para o alto: "Quando não gosto de alguém, jogo o preço lá em cima, cobro 150 reais só a mão. Se aceitarem, eu vou, dinheiro não leva desaforo para casa." Oscilam também para baixo porque ela concede abatimento de 50% a jovens que bancam a depilação com mesada. E oscilam conforme a distância: Nete cobra 500 reais pelo "serviço completo" na atriz Ana Paula Arósio, que mora na praia de Grumari, a uma hora e meia da favela Vila Parque.

Sua caderneta tem cantoras como Preta Gil e Marina Lima, atrizes como Glória Pires e Carolina Ferraz, famílias como a Marinho. Mais longe do que ela só foram as J. Sisters, irmãs capixabas que apresentaram às nova-iorquinas o brazilian waxing, complemento natural, por assim dizer, do biquíni cavado - outro produto de exportação da moda brasileira.

O brazilian waxing, jeitinho brasileiro de conter os pelos pubianos nos limites estritos dos mais exíguos triângulos de pano, emplacou na língua inglesa como um neologismo já devidamente dicionarizado pelo Oxford. Na Wikipédia, ele conquistou um verbete minuciosamente ilustrado e que, como o assunto em si, não esconde nada. Com salões em Manhattan, pioneiros na disseminação no exterior da técnica nacional, as J. Sisters ficaram milionárias.

Nete não pode se queixar. Tem uma cobertura duplex na favela com três suítes, terraço, sala de televisão e paredes decoradas com pratos da Confraria da Boa Lembrança. Tem um Fiat Idea novinho na porta e uma empregada doméstica na cozinha. Sua geladeira é daquelas que despejam gelo no copo sem abrir a porta.

vem semana


que os orixás embalem bem a semana. lets (re)começar.

dialecto urbanus

"eu mandava bem no 'moonaia'" - recordação de um motorista, da época que tinha blackpower e se lançava na pista imitando o 'moonwalk' de Michael Jackson.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

uma vodca, por favor?

Para ir ao vipasso show do Franz Ferdinand, tive de me submeter a uma agenda maluca. Quarta-feira, como alguns sabem, é dia de fechamento. Dia de sair lá pela 1h, 2h da manhã. O show estava marcado para 23h e precisava sair no máximo 22h15. Para isso, deveria deixar tudo pronto, no Guia do Estado e no do JT. Foi uma operação de guerra. Mas consegui. O evento, porém, tão exclusivo, tinha sido mal calculado. Na casa, cabem cerca de 2.000 pessoas. E colocaram praticamente isso para um show que aconteceria em apenas um dos ambientes. Logo, metade do público tinha que ficar do lado de fora apenas ouvindo os hits e as novidades da banda de indie rock. Tentei umas duas vezes me enfiar naquela muvuca, mas meu porte físico só ajuda a ir me enfiando. Ver que é bom, nada. Então, fiquei um tempo ouvindo do lado de fora. Mas chegou uma hora que me irritei. E pra piorar notei que perdi minha comanda. "Quer saber, vou me enfurnar nessa sala vip e me afogar de vodca e energético". Foi o que eu fiz. A frase da noite foi a mesma: "Mais uma?", pelo menos umas sete vezes... Hoje estou estragadinho. E ainda tem VMB. Meu deus...

a violência a serviço do drama de andréa


O filme 'Salve Geral', que estreia sexta (2) nos cinemas, antes de tudo é um melodrama. Não é o tal filme que retrata os atentados do PCC, como se tem dito por aí. É, sobretudo, um filme de Andréa Beltrão. Depois de 'Verônica', é ela quem novamente sobressai no novo longa de Sergio Rezende (de 'Zuzu Angel'). E mostra um poder de atuação que a coloca entre as melhores atrizes do atual cenário brasileiro. A mulher escrachada de 'A Grande Família' ou de 'As Centenárias' se sai com igual maestria em papeis dramáticos. Aqui, em 'Salve Geral', o filme escolhido pela Secretaria do Audiovisual para tentar uma vaga no Oscar, Andréa Beltrão é Lúcia, uma viúva professora de piano que tenta a todo custo tirar o filho da prisão, acusado de assassinato. Em meio a luta, Lúcia conhece Ruiva (Denise Weinberg em ótima atuação). Ruiva é advogada de um dos manda-chuva do PCC. Sem dinheiro, Lúcia alia-se a Ruiva e se envolve com o crime - até romanticamente. E onde entra os atentados que paralisaram São Paulo em maio de 2006? O caso aparece na reta final da trama, em cerca de 25% do filme. O "11 de setembro" dos paulistanos aparece no trânsito caótico, na cidade vazia ainda no início da noite e nos noticiários. Revela ainda o acordo realizado entre secretário de governo e bandidos para interromper o estado de sítio que a facção criminosa impôs. É um filme de qualidade, que pode provocar dúvida em quem já está saturado da onda de cinema violento - Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite e Última Parada 174. Mas vale a ressaca. Andréa Beltrão é um excelente engov.