domingo, 25 de outubro de 2009

um dia de Tremendão

Em casa, ouvia na minha infância muito mais 'Festa de Arromba' do que 'Emoções'. O Tremendão Erasmo Carlos estava, de alguma forma, à frente do Rei Roberto Carlos. Criei na minha cabeça que Erasmo era muito mais familiar que o Roberto. O jeito riponga, debochado, meio cafajeste me parecia mais autêntico (e interessante) que os ternos brancos (ou azuis) daquele que embalou todos os Natais da família. Eu vislumbrava em Erasmo uma figura paternal.
Há duas semanas me encontrei com Erasmo. E desde o instante que pensei na possibilidade de vê-lo ao vivo me lembrava dele. Das fotos com as calças boca de sino, o cabelo desgrenhado, o óculos meio John Lennon. Um hippie parado no tempo. Estar de frente com Erasmo era ir de encontro ao passado. Uma sensação de viver com ele os anos 60 e 70...
Aos 68 anos, Erasmo fuma um cigarro atrás do outro. Me pergunta se me incomodo. Digo que não. "Essa cidade está ficando um porre com esse monte de lei", falo, numa expectativa de quebrar o clima. E ele me diz que "é bicho, está complicado". E mais uma vez penso que "caceta, é ele".
Conversamos sobre sua volta às guitarras e as diferenças com Roberto. No ano em que só se falaram dos 50 anos do capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, ele lembra que "curioso como tanta gente dessa cidade cruzou meu caminho". Diz que os seus 50 anos serão comemorados no ano que vem. Comemorados como? "Não sei. Eu não tenho que comemorar nada. Vou esperar me chamarem. O Roberto não fez nada, quem fez foi o Itaú".
Erasmo recorre invariavelmente ao assistente que o acompanha há tantos anos na turnê sempre que sente que falou algo bonito, que poderá ser utilizado outrora. É uma piada interna. "Anota aí", ele diz umas quatro vezes. Debochado, como ele... Acha interessante quando diz que "o tesão no palco é como uma mulher nova". "Anota aí", repete.
O Tremendão aponta o dedo na cara da geração mais nova. Diz que "hoje ninguém mais desafina" e que "a tecnologia prostituiu a emoção". Falta-lhes vivência, pondera. "Essa geração não canta o que sente ou o que viveu". Rebato que, portanto, hoje ele escreve melhor do que seus 20 e poucos anos. Acuado, solta apenas um "não sei". Mas reconhece que os trancos da vida lhe tiraram a tal ingenuidade. E não só. Diz que sente saudades da época em que a parte física e mental andavam em conjunto.
Lembrou de Raul, Tim Maia, Ben Jor, e, claro, o amigo de fé e irmão camarada, o Rei. Brinca que se juntassem todos eles estaria formado o Beatles brasileiro. E volta atrás, logo em seguida. "Não ia durar muito tempo. Ia ser um duelo daqueles...".
Eu agradeço a entrevista. Peço para registrar aquele momento. E lembro a ele que era um prazer entrevistá-lo. Era como se estivesse diante da figura que mais me lembra ele. Meu pai. E, de certa forma, estava.

2 comentários:

Anônimo disse...

QUERO VER AS FOTOS!!!
LVL

eu disse...

seu pai????????