terça-feira, 24 de março de 2009

saudades de um tempo que não vivi



não é a primeira vez que sinto saudades de algo que não vivi. e, racionalmente, parece tão estranho um sentimento que, a princípio, se faz necessário ter alguma experiência real para existir. mas é que mais uma vez essa cidade mexeu comigo. não tem erro. é desembarcar - no galeão ou no santos dumont - para já não ter mais vontade de sair. mas minha última ida ao rio de janeiro me provocou conflitos. pela primeira vez senti a sensação de bomba-relógio nessa cidade. um misto de medo e de incerteza. no último domingo, copacabana - onde estava hospedado - ficou com ares de cidade sitiada. carros e carros de polícia por todas as esquinas. um estampido de tiro aqui e ali. e aquelas cenas, que tanto acompanhamos nos morros, desceu ao asfalto. e meu sentimento de adoração por essa cidade maravilhosa ruiu - por instantes. ontem fui assistir ao novo documentário de helena solberg: 'Palavra (En)Cantada'. E aí sim bateu o tal sentimento que falara no início deste post. Ao ver Martinho da Vila dizer que o Rio mudou muito, fica evidente a transformação radical vivenciada aqui. É como reforça Chico Buarque: "Noel Rosa subia o morro para comprar samba. A classe média e alta subia o morro, naquele tempo, pra comprar samba". Isso mudou. E muito. E é triste, muito triste, aceitar a incompetência das autoridades. Ou melhor, sua leniência. Acompanhar de camarote, polícia e tráfico viverem uma suposta guerra - que nos bastidores é a mais pura e fina harmonia. Armas daqui, dinheiro acolá. E a população refém de uma situação que não há uma ponta de esperança de se reverter. E mesmo assim não consigo me livrar da vontade de morar aqui. E decidi que não vou lutar contra essa vontade. Pelo contrário. É pela saudade de um tempo que não vivi - e pelo que já vivi - que meu destino parece estar fadado à Cidade Maravilhosa.

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