sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ecos na manchete do correio popular

Documentário reconta a trajetória de Toninho
Oito anos após assassinato, Ecos resgata obstinação do prefeito
Rose Guglielminetti
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
rose@rac.com.br

O desespero de uma família para encontrar respostas. As justificativas de autoridades para dar essas respostas. Acusações do descaso da polícia. Um assassinato que foi “apagado” após o ataque terrorista às torres gêmeas nos Estados Unidos. Promessas que não foram cumpridas. Traição e abandono. Dor e impotência. Uma filha sem o pai. Uma mulher sem o marido. Uma mãe sem o filho. Um irmão sem o irmão. Uma cidade sem o seu prefeito.

Todos esses capítulos estão em uma produção que poderia ser de ficção, mas é um documentário com personagens reais e depoimentos que revelam frustração. Ecos é um filme que conta a trajetória de um campineiro obstinado, um arquiteto com os olhos voltados para o planejamento urbano, um homem que se preparou para ser prefeito, mas uma bala fez com que ficasse na principal cadeira do Palácio dos Jequitibás apenas nove meses. Ecos conta a história de Antonio da Costa Santos (PT), prefeito de Campinas, assassinado no dia 10 de setembro de 2001, crime que completa oito anos de uma investigação com mais perguntas do que respostas.

O documentário de Pedro Henrique França e Guilherme Manechini refaz a trajetória de vida de Toninho quando ele ainda atuava na Assembleia do Povo, passa pela sua luta pela preservação do patrimônio histórico de Campinas, conta a sua eleição para vice-prefeito na chapa encabeçada por Jacó Bittar (então PT, hoje no PSB) e o rompimento com o então prefeito, além de mostrar as ações na Justiça contra empreiteiras. O documentário traz imagens de suas campanhas eleitorais, a falta de apoio de militantes do PT em alguns pleitos, a sua quase expulsão do partido na briga contra Bittar e a sua vitória em 2000, dessa vez, com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o seu assassinato em 2001.

Mas os depoimentos apenas retratam os fatos, sem qualquer novidade além do que já foi noticiado até hoje pela mídia. Mostram os “furos” da polícia na investigação, o desespero da família pela condução equivocada na apuração do crime e a frustração por ver que os caciques do partido, inclusive Lula, nunca se esforçaram para tentar encontrar as respostas que ainda dão nó na garganta dos parentes de Toninho. “Achava que teria apoio de Lula, apoio que ele prometeu em comício com mais de 20 mil pessoas, mas nunca veio. A Polícia Federal nunca entrou no caso. Virei persona non grata no PT”, reclama Roseana Garcia, viúva de Toninho.

A família sempre defendeu a entrada da PF no caso — a Polícia Civil diz que o prefeito morreu porque estava no lugar errado e na hora errada, e a família e amigos acreditam piamente que foi um crime político. Para a polícia, quem matou Toninho foram os integrantes da quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. Os tiros teriam sido disparados porque Toninho atrapalhava a fuga do bando. A arma do crime nunca foi encontrada. A Justiça, porém, não aceitou a denúncia e quer mais investigações. “Está tudo parado”, lamenta Roseana.

Os cineastas procuraram ouvir todos os envolvidos direta ou indiretamente no crime. Entre os amigos ligados à vida pública, há depoimentos de Gerardo Melo, Durval de Carvalho, André Guimarães e Nilson Lucílio. Da família, há depoimentos de Roseana; da filha, Marina dos Santos; do irmão Paulo Roberto dos Santos e da mãe, Clemência dos Santos. O caseiro Léo também é ouvido na Casa da Tulha, onde Toninho morou. Ele conta que costumava dizer: “O senhor nasceu com esse destino (ser prefeito)”.

Da Polícia Civil, são ouvidos o delegado seccional Osmar Porcelli, responsável pela investigação nos primeiros meses; Luiz Fernando Guimarães, então delegado da Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e Marco Antônio Petrelluzi, ex-secretário estadual de Segurança. Os promotores Fernando Vianna e Ricardo Silvares, que ofereceram a denúncia apontando a autoria do crime à quadrilha de Andinho, explicam por que chegaram a essa conclusão. Também há depoimentos de jornalistas que cobriram o caso, como o da repórter do Correio na época e hoje secretária de redação Zezé de Lima. Há também depoimentos de dois dos quatro acusados pelo assassinato — Flávio Menezes, o “Flavinho”, e Globerson Luiz Moraes da Silva, o “Gro”. “Falei que era eu porque não aguentava mais apanhar”, disse Flávio no filme.

Para muitos dos personagens, Toninho ainda foi prejudicado pelos ataques às torres do Word Trade Center dia 11. Tanto que vários jornalistas da mídia nacional que estavam pautados para a cobertura do velório reconheceram que o assunto perdeu valor quando foram divulgados os ataques. “Se não tivesse tido o 11 de Setembro, a mídia teria explorado mais e a pressão (pela investigação) seria maior”, afirma Roberto Cabrini, hoje na Record.

Mito ou vaidade?

E um dos momentos mais tensos do documentário é justamente o depoimento do promotor Silvares, que afirma que “é um mito achar que Toninho foi assassinado porque mexeu com interesses empresariais”. “Ele só teve nove meses (no poder). Apenas o contrato do lixo teria algo e mesmo assim são relatos de uma testemunha que ouviu alguém dizer algo”, disse. A irritação de Roseana é transparente quando os cineastas mostram essa cena para ela. “Como ele não mexeu com interesses? Toninho tinha processos contra construtoras, contra o Quércia (Orestes Quércia, PMDB, ex-governador de São Paulo). Tem que ser investigado. Estamos à mercê da vaidade da Justiça”, lamenta Roseana, endossando a mensagem em faixas espalhadas ontem por Campinas cobrando investigações e dizendo que o crime é político. Ao que completa o então ouvidor das polícias Civil e Militar Firmino Fecchio: “Esse é um caso clássico de negligência e omissão das autoridades do Estado, que estão em dívida com a família”.

As fotos do velório também provocam um nó na garganta. E até os mais resistentes podem não resistir às lágrimas ao ouvir o último recado deixado por Toninho na secretária-eletrônica do celular de sua única filha, na época com 14 anos, no dia em que foi assassinado, o último que recebeu do pai: “Marina, minha filha. Orgulho da minha vida. Pessoa que mais adoro em 6 bilhões de habitantes”. Até hoje, essa voz é guardada como um tesouro e, de tempos em tempos, ouvida para matar a saudade.

PONTO DE VISTA

Roseana Garcia
Psicóloga, viúva de Toninho

Memória recuperada

Desde que Antonio morreu, venho lutando para obter respostas e sempre desejei que houvesse um registro de todos os fatos que cercaram o seu assassinato. A atuação da polícia, o descaso da Promotoria. Queria mais do que isso, queria um registro que mostrasse a trajetória política e o combate à corrupção feito por Antonio, uma bandeira que ele sempre defendeu. Cheguei até a pensar que alguém poderia escrever um livro ou fazer um filme. E, por coincidência, o Pedro e o Guilherme se interessaram pelo tema e fizeram o documentário. Foi o primeiro trabalho deles e de muita qualidade. Tanto que o documentário teve ótima repercussão na estreia, na cinemateca de São Paulo, e teve a qualidade reconhecida pelo festival de cinema

É Tudo Verdade. A maioria das pessoas que assistiu não sabia da trajetória de Antonio e ficaram indignadas e solidárias.

O melhor de tudo isso é que esse filme vai ajudar na minha luta, pois os meninos ouviram muita gente, todos os lados e mostram isso de maneira muito inteligente. Vou percorrer vários bairros de Campinas para apresentar o filme.

A memória de Antonio não pode ser esquecida.

Crime foi ‘apagado’ pelo 11 de Setembro

O principal objetivo dos jornalistas Pedro Henrique França e Guilherme Manechini foi devolver a importância do assassinato de Toninho, apagado pelo 11 de Setembro. “Era uma história interessante e nebulosa que acabou perdendo força com o atentado nos EUA. Não descobrimos nada de novo, mas mostramos todas as faces desse crime, que é um escândalo ficar escondido”, disse França. Ecos, trabalho de conclusão de curso na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), começou por acaso. “A Roseana e a Marina vieram morar em meu prédio (após o crime, elas se mudaram para São Paulo). Acabamos ficando amigos e decidimos que valia a pena trazer essa história à tona.” A coleta de depoimentos, diz, não foi fácil. “A polícia deu muito trabalho e as grandes estrelas do PT. O Zé Dirceu pegamos no pulo em um evento interno do PT. No fundo, o objetivo foi mostrar as várias teses e nenhuma resposta.” (RG/

3 comentários:

eu disse...

tenho certeza que voces vão ajudar muito a roseana e a marina, a reabrir o caso. o mais importante é que este filme, vai ficar na história do brasil, como objeto de pesquisa; infelizmente de muita sujeira. parabens, parabens parabens. outros festivais virão com certeza!

Marcos disse...

Pedro Henrique, olá tudo bem.Não consegui assistir nenhuma dessas apresentações em Campinas. Como faço para assistir o documentário? Vocês farão nosvas apresentações.
Abraços,Marcos

Pedro Henrique França disse...

pretendemos, em algumas universidades.