terça-feira, 27 de janeiro de 2009

atualização teatral


delicadeza em cena de Agreste

contemporâneo e visceral, em Hamlet

O fim de semana foi bom para me atualizar no circuito teatral. Sexta, após entrevistar Grace Gianoukas do Terça Insana, era vez de enfim ver Hamlet, a peça de Shakespeare estrelada por Wagner Moura, em cartaz no Teatro Faap. Supreendente. E contemporâneo. Há tempos eu queria ver esse ator baiano ao vivo, mas ao mesmo tempo tinha um certo receio com a grandiosidade armada em cima da montagem. Críticas de lá, críticos de cá. Uns amavam, outros dormiam. Alguns diziam que Wagner Moura chegava à beira do ridículo ao forçar sua insanidade. Outros, que a linguagem contemporânea era equivocada. Não tenho como dizer sobre o início. Mas se havia esses problemas, eles foram limados. E não é de Moura o trunfo desta encenação. Mas uma soma de qualidades. Destacam-se: Tonico Pereira, como o 'tio-padrasto'; Georgiana Góes, no papel de Ofélia; e o ator que encarna o pai de Ofélia. Vai bem também Carla Ribas, a atriz de 'A Casa de Alice', no papel da mãe de Hamlet, e Mateus Solano, como Horácio. Além de um elenco afiado, a forma que Aderbal Freire Filho dispôs os atores em cena e o cenário e figurino utilizados transportam a tragédia de 1600 (ano em que foi escrita) para os dias atuais. E nada mais atual, em tempos de guerra, do que banalizar a morte. Mostrar o quanto o ser humano é mesquinho e quantas mortes são inúteis em prol de um desejo egoísta. É verdade que as 3h30 tornam-se cansativas a certa altura. Cenas como a dos coveiros divagando poderiam ser facilmente retiradas, sem perder absolutamente nada. Mas o desfecho trágico e sua lição de moral perdoam os deslizes, ou melhor, os excessos.

Outra peça surpreendente em cartaz é 'Agreste', no Parlapatões. E aqui sobressai fundamentalmente a atuação dos atores Paulo Marcello e João Carlos Andreazza. E o texto delicado e poético de Newton Moreno. Ao contrário de Hamlet, com um elenco de cerca de dez atores, Agreste coloca apenas os dois em cena. No escuro, Paulo e João começam a narrativa sobre um casal de lavradores que descobre o amor e foge. Paulo e João vivem homem e mulher quase ao mesmo tempo, intercalando falas. É quase um teatro lírico, que eu nunca havia visto igual. A aposta poderia cair no vazio. Mas não. Em apenas uma hora, Paulo e João destilam o texto de Moreno de forma pontual e afiadissíma. Poeticamente e sensivelmente, sem ser piegas. E abordam o preconceito no ponto-x da questão. Sem qualquer violência.

2 comentários:

Manoela disse...

Assisti as duas e adorei ler seu texto sobre elas.
Sensibilidade fantastica no entendimento de ambas!
Depois que descobri o blog do xote to sempre aqui...beijos

Anônimo disse...

me chama para as próximas! beijo, batatatata