quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

marcas de elza


eu pergunto a ela se está tudo bem. e com o jeito escancarado ela responde que está "mais feliz que pinto no lixo". a mulher pobre, negra que casou com garrincha, perdeu filho (e marido) e sofreu muitas desventuras não parece ser a mesma que emenda uma risada na outra ao telefone. Mulher que aos, 71 anos, diz que irá fazer muitas "sapequices" no palco. "Vou trocar de roupa no palco". Promessa, aliás, não cumprida na estreia da temporada, às quartas, no Bar Brahma - justificada por um "o palco é muito pequeno". A sapeca então tem vergonha? Imagina... Não dá pra crer. A mulher que rebola e constrasta os diversos scats com um salto alto (no sentido mais literal da palavra) talvez tenha medo. Medo de envelhecer. Transfigurada com tantas plásticas e exibindo um corpo sarado, é nítido que ela quer desafiar os sinais do tempo. "Eu malho e cuido com muito carinho da Elza", diz. Uma hora, é claro, ela vai perder essa guerra. Mas sua voz e a ousadia ficarão na história. Que, vale apontar, seria um sucesso muito maior se fosse americana. Mas isso não importa mais para Elza. Uma carioca que eu já vi cair de um salto bizarro, não conseguir se levantar sozinha e, ainda assim, voltar ao palco com o pé já imobilizado. Que sofreu um pequeno acidente em uma turnê recente, na Europa, com o Farofa Carioca, "ferrou os dentes e a perna", mas estava ali no palco esforçada em dançar, cantar, se exibir. Para, como ela relatou o acidente ao público, deixar uma marquinha de Elza.

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