segunda-feira, 15 de junho de 2009

de caê ao xote

Caetano: a irreverência de sempre (até ao telefone)

Na terça passada tive oportunidade de falar com esse eterno tropicalista, Caetano Veloso. Foi um prazer enorme falar com ele, que é prolixo sim, mas uma simpatia só. Compartilho com vocês a conversa, abaixo, na íntegra.



NOVO DISCO


"O que deu essa cara (roqueira) foi a existência da banda. Quis continuar trabalhando com a banda que armei para fazer o 'Cê'. Então, pensei em fazer alguns tratamentos a partir do timbre da banda com o ritmo do samba".

O REPERTÓRIO E O QUANTO HÁ DE CAÊ NELE

"Você achou que está mais melancólico (que o Cê)? Pode ser... É que em Cê as letras são mais agressivas. Aqui, não são tão agressivas. Então, elas são mais contemplativas, mais reflexivas. Acho que o disco tem um conteúdo mais abrangente. É mais político. Menos do que a vida individual, como em Cê. Quanto a serem mais documentais, de experiências da minha vida, acho que empata. Nos dois discos, como no geral são minhas músicas, elas são mais autobiográficas".

REPERCUSSÃO DA CRÍTICA

"Não vi quem falou bem, vi quase que só falando mal ou meio nada. Sabe o que acontece? Todas as canções com os respectivos arranjos já era conhecido dos shows que eu tava fazendo. Essas opiniões não vêm de uma coisa que estão ouvindo agora. Há uma certa frieza também porque aquilo já é conhecido, ninguém está opinando mesmo. Eu não ligo não. A imprensa pega no meu pé e eu no dela, é assim há muitos anos. Eu gosto de imprensa, mas também tenho que reagir. E assim mesmo".

'LAPA' OS NOMES DO ATUAL ROCK E DO SAMBA

"Aparecem muitas coisas no Brasil. Vejo bandas que vou ver na Cinemathéque, que às vezes nem lembro o nome. Ouço discos antigos, coisas internacionais: americanas e inglesas, onde se dá propriamente a realização da história do rock'n'roll. Naturalmente, ouço o que todo mundo ouve. Mas também algumas que nem muita gente ouve, como Animal Collective, TV On The Radio, Radiohead... E samba, gosto muito da Roberta Sá, adoro ela. E gosto de uma porção de coisa que vou ouvindo. Gostei do disco do Rodrigo Campos... Vi um show aqui (no Rio), que aí é mais pra rock do que pra samba, da Tiê, de que gostei muito. Tinha ouvido só no Youtube o clipe de 'Passarinho' e achei apaixonante. Depois, fui ver o show e gostei muito de uma música que chama Chá Verde. E gostei dela como um todo, a voz, a presença, o show. Ela canta bem sem ficar exibindo que canta muito".

STUDIO SP E A TEMPORADA QUE NÃO VINGOU

"Basicamente, sim, foi por falta de patrocínio. O Alê (Youssef, proprietário) me apresentou um convite através do Hermano Vianna. E eu fiquei animadíssimo. E eles todos, tanto o pessoal do SP como o pessoal do meu escritório, acreditavam que conseguiriam patrocínio para fazer. O lugar é pequeno e teria de ser uma temporada, e ia precisar de apoio. Tem toda a produção, equipe, banda e isso ia precisar de passagem, hospedagem e produção... O local e meu escritório não iam conseguir arcar com isso. O Credicard apresentou proposta de comprar o show. Eu resisti até bem tarde, porque houve uma nova possibilidade de patrocínio. Até que o Alê respondeu tristíssimo que o último cartucho tinha dado pra trás. Ele até sugeriu que o primeiro show fosse lá. Mas, naturalmente, o Credicard Hall comprando o show comprou a exclusividade. Mas um novo show no SP não está descartado. Espero que aconteça sim".

'FALSO LEBLON' E AS DROGAS NA NOVA JUVENTUDE

"Sempre achei e acho racionalmente que a legalização (das drogas) com uma taxação alta e um desestímulo ao consumo é que é a solução. Agora, quando vejo crianças e mulheres acabadas na rua por causa de crack me sinto abalado. Aquele personagem do Tropa de Elite, o policial que foi estudante da PUC, e que o drama ali, de apontar para o menino da elite que aquilo é culpa dele, é verdade, naquela perspectiva. Mas é fato: se não houver consumo não tem porque haver tráfico. É uma cadeia. Eu, pessoalmente, sou suspeito. Não gosto, não tomo droga, nem nos anos 60. Tenho medo, me sinto mal fisicamente. Teve um período que era moda cocaína, eu tinha horror. Já ouvi falar que pinta, que rola. Mas não vi mais. Houve um período que via, hoje não vejo mais. Então essa música é em parte uma lembrança, em parte do que ouvi falar. Odeio tanto quanto odiava antes."

LIBERAÇÃO SEXUAL E PARADA GAY

"Adoro isso. Me lembro que briguei com um jornalista, assim gritantemente, porque, entre outras coisas, disse que o Brasil era um país que não se podia nem fazer uma parada gay, porque a tentativa levaria somente 12 pessoas para a rua. Falei 'esse cara é um idiota, em pouco tempo a parada gay no Brasil será maior que a americana'. E é, estava certo. E fico orgulhosíssimo. Sou a favor de casamento, de adoção, de tudo que for, de tudo o que a pessoa quiser fazer. Não vejo mais nenhuma razão pra se dizer que só pode haver uma relação amorosa entre um homem e uma mulher. Nunca houve razão, mas hoje em dia já se sabe que não há razão".

TOMBO EM BRASÍLIA E O MEDO DA MORTE

"Caí, foi horrível, tomei um susto horrível. Eu tenho muito medo da morte, tinha mais ainda. Porque quando era moço, era mais narcisista ainda. Hoje já não tenho tanto. Mas tenho, tenho medo. Mas não penso muito nisso, não dou tanta importância como eu dava".

SEXUALIDADE AOS 66 ANOS

"Lido da melhor maneira que posso, não fico demasiadamente encucado com isso, não. Vou vivendo... Já sofri muito e já gozei muito também a existência. Já sei como é que se fazem essas coisas, mais do que sabia antes. Então, vou tocando, vou levando..."

O REPERTÓRIO QUE PASSA

"Não tenho nada que não aguente das minhas músicas. Tem umas que passo algum período com um pouco de preguiça de cantar. Às vezes canto porque alguém pede e no meio da música me dá preguiça. A última foi 'Você é Linda'".

ELEIÇÕES 2010

"O que vejo é que há uma candidatura da Dilma e mais nada, porque o PSDB não se decide. Mais uma eleição de Lula é inaceitável, e espero que seja de fato também por ele. É impensável. Agora, o que temos é uma candidatura da Dilma, que tudo bem, é muito simpática. Diz-se que o PSDB poderia sair com o Serra, que tem aquela porcentagem alta nas pesquisas de intenção de voto, ou com o Aécio. E eu não sei. Ainda não saiu, tem que sair. Mas eu prefiro o Aécio".

2 comentários:

Renata Megale disse...

muito bom.
ele é uma simpatia e fala, fala fala... as palavras parecem não ter fim! açucar pra nóis!

Anônimo disse...

Obrigada pela íntegra queerido
imagino a emoção, também adoro as muitas coisas q ele fala
Um beijão
Dri