sexta-feira, 26 de junho de 2009

terra do nunca


quando nasci, thriller já era, há três anos, um dos maiores sucessos do mercado fonográfico. michael já não contava mais com os outros jackson's para brilhar sozinho. era produto de lucro garantido. e mais do que isso: um fenômeno musical. era, fato, o novo james brown da música (pop) negra. ou como diz ed motta, uma espécie de marylin monroe misturada com mickey mouse e coca-cola. um músico que arrebatava multidões com sua música, e sobretudo com seu bailado. era um showman, no sentido literal. portanto, em 1985 michael já era tudo isso e mais um pouco.
mas lembro dos domingos no fantástico. de quando vi black or white pela primeira vez. de quando vi 'free willy' e a música-tema era dele. de quando ele veio ao Brasil pela segunda vez e eu gravava - em VHS - passo a passo dele no País, até aquele incidente do atropelamento de um fã na sua saída do hotel. michael era presença constante. daqueles artistas que viram membro familiar. falar de michael era falar daquele amigo de escola, ou de um primo distante.
assistir ao seu declínio foi lamentável. o mundo acompanhou de perto as bizarrices que não paravam de assombrá-lo. por algumas vezes, me questionei o que estaria acontecendo com um dos maiores astros pop em toda a história da humanidade. quando veio aquele documentário no qual ele revelara todas as problemáticas de sua infância por um instante compreendi e lamentei, 'tadinho'.
michael teve tudo que uma carreira meteórica (e sólida) poderia proporcionar. construiu sua 'neverland'. foi criança e se cercou delas - até demais. mas quando ele anunciou a tal megaturnê em londres, por um instante pensei que seria talvez a chance de ele se recuperar. mas talvez ed motta esteja certo quando diz que tudo aquilo não passava de uma encenação. michael estaria apenas cumprindo questões contratuais, tentando reverter o cenário desastroso de dívidas. que lhe tirou, inclusive, uma de suas maiores alegrias, a neverland.
outros artistas pop surgiram nesse intervalo de decadência. britney, justin, boys-band, christina aguilera, beyoncé. todos tinham alguma influência de michael. e isso era evidente. mas jamais chegariam aos pés de michael, nem mesmo justin - o melhor entre todos esses - poderia ser tão genial como o cara que criou o moonwalk.
cheguei a pensar, em alguns rompantes, em me endividar em mil parcelas e vê-lo nessa turnê de londres. e parece ridículo, demagogo, falar isso agora que ele se foi. mas era verdade. e só eu sabia disso. ontem, quando começaram os burburinhos na redação, tentei não acreditar que ele estava mal. acompanhei segundo a segundo a CNN em busca de uma resposta positiva. um aceno, um sopro, um comunicado feliz.
mas a correria da redação me obrigou a ligar para vários artistas antes mesmo do comunicado oficial. e esquecer por um tempo que eu estava perguntando a eles sobre a morte daquele cara que marcou minha infância como nenhum outro artista pop. até porque madonna nunca foi minha praia, apesar de todas as suas qualidades.
só lá pelas 22h consegui parar e ter a noção do que havia acontecido. passei a assistir vários videoclipes, como se tivesse 5, 7 anos. e o térreo do prédio ficasse vazio, porque estavam todos em suas respectivas residências para ver a mais nova megalomania de michael. por um momento, senti como se minha infância perdesse o sentido.
são poucas mortes de artistas que me comoveram. conto em uma mão, inclusive. emoções como essa, só com ayrton, mamonas e paulo autran. cada um a seu modo fez parte da minha vida como se uma parte dela deixasse de existir após sua despedida. michael soma-se a todos eles.

que ele seja feliz em sua neverland.

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