terça-feira, 16 de junho de 2009

sonhos cruzados

selton e vanessa; jean charles e vivian

fui hoje assistir ao aguardado filme 'jean charles'. meio documental, meio ficcional, o longa de henrique goldman retoma a nefasta história que vitimou o inocente brasileiro jean charles de menezes no metrô britânico. suspeito de ser um terrorista, o brasileiro foi covardemente assassinado pela própria polícia, dias após a ocorrência de um atentado. até hoje o caso corre na justiça e não há perspectiva de uma sentença.
transpôr o caso para a película tinha um risco: o de cair no sensacionalismo ou no melodrama. goldman transita entre os dois erros e só sobressai muito em conta pela atuação de vanessa giácomo e selton mello. goldman opta por conduzir a narrativa com foco em um imigrante brasileiro, como tantos outros que vivem em londres. logo, estão ali os dribles para obter vistos ilegais, as dificuldades do começo em terra estrangeira, a familiaridade com aqueles que convivem na mesma situação - e muitos clichês. por outro lado (e aí, ponto positivo), está ali o sentimento comum da saudade e da certa impotência em uma terra que nem de longe é tua.
mas a trama desanda quando começam as notícias dos atentados. se por um lado, o filme ganha com o suspense relacionado aos problemas pessoais de jean charles, ele perde ao colocar as duas ações em paralelo. é neste trecho, aliás, uma das cenas mais simbólicas: a de jean ligando para mãe. como se estivesse perdido em um labirinto, ele telefona apenas em busca de uma voz reconfortante do outro lado. e chora tentando disfarçar o desconsolo.
o desfecho já se sabe. jean passa a ser seguido pela polícia, sem se dar conta disso. e é morto, como noticiaram os jornais. a notícia aos três primos que moram com ele (incluindo giácomo, como vivian) é dada de forma cruel. como quem diz: ups, acho que pisei no cocô. e aí é inevitável uma certa xenofobia àqueles que praticaram tal ato. o filme poderia parar aí. mas ele segue com um sensacionalismo estritamente desnecessário. só vale ficar até o fim pela sensação de vazio que vivian sente quando retorna ao Brasil. aliás, 'jean charles' só vale, como já foi dito, pela dupla em cena.

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