domingo, 23 de agosto de 2009

Ela só pensa (e faz) na bubuia




Diogo Poças talvez nem saiba, mas sua irmã Céu revelou, em conversa com o Estado, que o 'culpado' por fazê-la investir em música foi ele. Diogo queria testar um instrumento novo e pediu para a irmã acompanhá-lo em Por Causa de Você (Dolores Duran e Tom Jobim). "Depois, fiquei escutando e pensei 'poxa, eu gosto disso'."

Por ironia do destino, quem saiu à frente foi ela. Enquanto o irmão mais velho se dedicava à publicidade, Céu decidiu vencer a timidez e encarar a carreira de cantora. Em 2004, lançou seu primeiro álbum. Com muitas referências da música negra e bases eletrônicas, foi um dos nomes mais falados naquele ano, quando se mostrava algo de novo na música brasileira. E ela manteve os pés no chão. "Claro que me surpreendeu (a repercussão), não sabia nem que podia compor. Mas de alguma maneira, não levei tudo aquilo a sério."

Céu foi rodar o País, a Europa, os Estados Unidos. No meio do caminho, ela engravidou e teve uma filha. E quis se dedicar à pequena Rosa, hoje com 1 ano. A expectativa pelo segundo trabalho é testada somente agora, cinco anos depois, com Vagarosa, seu novo álbum independente que chegou esta semana ao mercado.

Para ela, o intervalo não foi "tanto tempo assim". Céu diz que precisava de uma pausa para contar novas histórias. No disco, ela dá continuidade à unidade musical. Mas investe agora em uma "sonoridade mais tocada, orgânica, crua". As referências permanecem, mas para essa principal mudança entre um disco e outro, inspirou-se em Transa, de Caetano Veloso, e Revolver, dos Beatles.

Foi um processo realizado aos poucos. Ela chegou a lançar o EP Cangote, com quatro faixas. Destas, apenas Visgo de Jaca não entrou no álbum. "Já vinha fazendo essa música nos shows há algum tempo. Ficou como um registro especial." Já Vagarosa, Sonâmbulo e Bubuia, que estavam no EP, tiveram espaço também no álbum oficial. Esta última, inclusive, é uma parceria, com Anelis Assumpção e Thalma de Freitas. E simboliza bem a forma de Céu levar a vida. O termo (do Norte, segundo ela) foi apresentado pelo padrasto, Sérgio Bandeira. Significado: uma espécie de espuma que borbulha sobre as ondas. "Achei bonito isso. É algo como ir 'na maciota', devagar."

De releituras, ela traz Rosa Menina Rosa, de Jorge Ben Jor - numa homenagem à filha e ao compositor que tanto admira. E convidou Luiz Melodia para dividir os vocais em Vira Lata.

Desta vez, Céu não se juntou apenas a Beto Villares, produtor de seu primeiro álbum. Por conta de outros trabalhos, Villares participou mais do início do processo. Somam à dupla Gustavo Lenza e Gui Amabis.

Como no álbum anterior, ela inicia com uma introdução (Sobre o Amor e Seu Trabalho Silencioso). É uma forma de ela 'roteirizar' o conteúdo final. O conceito vem ao encontro da sua nova vontade: cinema. Céu, que já colaborou com Cidade Baixa, Filhos do Carnaval e Senhor das Armas, diz ter vontade de assinar uma trilha sonora. "Acho interessante sair do seu ponto de vista para entrar no que o diretor quer." E ela sonha alto. "Adoraria trabalhar com Pedro Almodóvar", diz, com sorriso entrecortado.

Com patrocínio da Natura Musical, a turnê começa dia 27 em Porto Alegre. Aporta em São Paulo de 2 a 4 de outubro, no Auditório Ibirapuera. Sem pressa, na bubuia.

* Publicado no Caderno 2, n'O Estado de São Paulo de 20/8/2009

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