domingo, 30 de agosto de 2009

um projeto, o filme e dois irmãos

Lembro como se fosse ontem. Eu e ele na mesa da cozinha - dele. Copos em mãos, uma cerveja ou outra na cabeça. Era outubro ou novembro. Ano: 2006, 3º de jornalismo, 21 de vida. Em um certo momento da conversa, ele me questionou: o que você vai fazer de TCC? Era um sábado, por volta de umas 21h. O início de uma conversa informal, das primeiras ideias. Dividia ali com meu irmão que escolhi para a vida toda um projeto que idealizara desde 2004. Nascia um sonho.
Em 2004, tive minha primeira conversa com Roseana Garcia. Soube da sua história quando Marina e ela se mudaram para São Paulo. Todos da turma do prédio falavam sobre a tal filha e a viúva do Toninho do PT. E eu nem sabia bem quem era Toninho do PT. Como tantos outros não souberam.
Toninho morreu no dia 10 de setembro de 2001, entre 22h e 23h. Na manhã seguinte, o que era pauta de todos os grandes jornais foi deixado de lado. Naquele dia, aconteceria um dos principais casos 'de guerra' do novo século: o atentado ao World Trade Center e outros pontos americanos. Os assassinos de Toninho devem até hoje a sorte a Osama Bin Laden.
Pois bem, em 2004 eu pude ter um primeiro contato mais profundo com a história. Resolvi fazer minha primeira reportagem sobre esse caso, nas palavras de uma víúva indignada com todo descaso: do partido, da polícia, da justiça. Naquela conversa resolvi que faria algo maior - aquele seria o tema do projeto de conclusão de curso. Havia muito a explorar, ouvir, decifrar, discutir, polemizar. Existia uma história (e que história) para se trabalhar.
Ali naquela mesa sentia que tinha achado meu parceiro. Ressabiado, confesso. Fazer um trabalho com um amigo tinha vantagens e desvantagens. Pró: a liberdade de falar, de discutir, de expôr opiniões. Contra: tanta intimidade levaria inevitavelmente a confrontos que resvalariam em outras contrariedades comuns a uma relação de irmãos.
Em 2007, começamos. Ambos trabalhavam (e muito). Ainda tinha faculdade à noite e... o TCC. Tivemos muitas dificuldades - parte delas solucionadas na parceria com o Maike, o homem que emprestou sua ilha de edição e horas da tua vida, ora gravando, ora editando. Tivemos resistência de entrevistados. Enfrentamos 'chás de cadeira' e tivemos limitações estruturais - e psicológicas. Foram muitas idas e vindas até Campinas. Abdicamos de nossas vidas pessoas, renunciamos às madrugadas e lidamos com muitas pressões.
Não foi fácil. O problema(?) da amizade foi latente em diversas vezes. Tivemos de nos questionar e discutir diversas vezes para manter o profissionalismo e sobretudo a própria relação. Entendi outras diversas porque muitas amizades se acabam em relações profissionais. Amigos, amigos, negócios a parte. Ali, estava tudo misturado.
Mas fomos felizes. Encontramos outros parceiros no meio do caminho - Lu Orvat, Leandro Alvares, Felipe Daros, Du Moscovis... E a cada nova parceria comemoramos. Dividimos angústias - e brindes. Brigamos pra cacete; nos abraçamos outras milhares. Conquistamos. Passamos de ano e demos continuidade ao projeto. Nossa meta sempre foi nunca deixar o filme passar em branco. Por um momento, desistimos. Pensamos, covardes, que tudo teria sido em vão.
Hoje, a dois dias da estreia no festival É Tudo Verdade, o mais importante evento de documentários, é como se estivéssemos começando de novo. Com a sensação contraditória de dever cumprido. Mas as contradições sempre foram o fio-comdutor de tudo isso, a começar pelo tema. Como pode o prefeito da segunda maior cidade do Estado ser assassinado e até hoje não se ter respostas para as perguntas básicas: quem e por que matou Toninho?
Por um momento, achamos ingenuamente que encontraríamos a resposta. Mas só o que temos é a certeza de que neste país ainda prevalecem injustiças. Restou fazer nosso papel: lembrar, cobrar e não deixar o assunto morrer.
No próximo dia 10, completam-se oito anos de morte de Toninho. Um cara que não conheci in loco. E que, curiosamente, faz parte da, talvez, mais importante fase da minha vida. Tão dividida, compartilhada e esmiuçada com este meu irmão, Guilherme Manechini. Só tenho a agradecê-lo - à espera de outros novos projetos!

2 comentários:

Ronnie disse...

Cara, sendo sincero: Me emocionei quando soube, através do twitter do Ecos Falsos, que esse documentário havia sido filmado e que já estrearia agora, perto dos oito anos da morte do prefeito. Eu tinha 11 anos só na época, mas o Toninho foi um cara que desde 96, quando perdeu as eleições, tinha uma grande torcida da minha família e que acabou virando uma amizade. Então cresci e comecei a tomar consciencia política com ele sendo o primeiro político e a primeira pessoa que admirei. Lembro até hoje do dia 10 de Setembro, uma segunda-feira à noite. Passei a madrugada gravando reportagens em VHS sobre a morte dele, a apresentadora à época era a Ana Paula Padrão, se não me falha a memória. Ao acordar, o mundo já tinha mudado, o atentado acontecido e o caso Toninho relegado a segundo plano. Quem o conheceu sabe que é um cara que NUNCA poderia ficar em segundo plano. Planejei ir pra São Paulo assistir o documentário, mas li no jornal daqui que no aniversário da morte dele haverá uma exibição. Então assistirei aqui em Campinas mesmo, mas não pude deixar de procurar os autores do documentário, encontrando o seu blog, para manifestar quão contente estou desse documentário ter sido filmado. Acredito que um dia descobrirão o que aconteceu de verdade e finalmente se fará a justiça. Pelo menos justiça à memória dele, e com certeza o documentário é um passo para isso. Peço desculpas se exagerei, mas fiquei realmente feliz, surpreso e emocionado. Forte abraço!

Pedro Henrique França disse...

Ronnie você não sabe como fico feliz com esse retorno. O chamado retorno espontâneo. Estamos contentes pela repercussão. E creio que em Campinas será ainda mais forte e simbólico. Contamos com sua presença. Grande abraço.