domingo, 23 de agosto de 2009

Ele chegou depois, confiante e cheio de vontade



A vida de Diogo Poças parecia predestinada. Filho do maestro Edgard Poças, sempre gostou de cantar. Tinha sólido suporte cultural em casa - e fora dela. "Ainda moleque", a mão do amigo Chico Pinheiro, "a Neusinha", incentivava Diogo a soltar a voz. Fez aulas de canto com Nancy Miranda e trabalhou como assistente de Rodolfo Stroeter na produtora Pau Brasil quando tinha "uns 18 anos". "De repente estava no estúdio, e nunca mais saí."

Mas Diogo Poças andou distraído nos bastidores. Acompanhou de perto a irmã, Maria do Céu (ou só Céu), despontar com estardalhaço na mídia em meados desta década. Justo ela, que sempre foi mais quietinha. "Quando a Céu era molequinha achei que ela seria desenhista. Um dia ela apareceu e cantou. E ficou todo mundo assim (faz cara de 'queixo caído')."

Mergulhado em publicidade, a música para Diogo servia apenas de ferramenta. Até que, no ano passado, conheceu Pepe Cisneros - o produtor que faltava para o start. "Sempre gostei de cantar. E foi até estranho não ter ido por esse caminho." O resultado vem só agora, com Tempo, seu primeiro álbum, que ele lança dia 27, no Sesc Pinheiros. "Dentro de um momento nebuloso no mercado, encontrei uma gravadora (Warner) que me desse autonomia. Aos 35 anos, fiz um trabalho autoral - para mim."

Numa fase em que as gravadoras não ditam o mercado há tempos, Diogo Poças se aliou a uma delas. "As gravadoras vão se adaptar à internet. Já sou um novo produto dessa realidade." Das 13 faixas, Diogo assina sete - sozinho ou em parceria com o pai e os amigos André Caccia Bava e Jessé Santos. Entre elas, desponta o sambalanço de Carioquinha e o reggae Pedacinho de Vida, registrado com Céu (que também comparece em Nada Que Te Diz Respeito).

A temática romântica predomina ("não tem como não falar de amor"). Mas para o músico, escrever não é tanto sua área. "Não sou um cara que compõe muito. Sou brifado." E explica que A Vizinha da Frente foi composta para cantar - no sentido xaveco da palavra - sua atual mulher. Completam o disco versões para Vinicius de Moraes (Saudade do Brasil em Portugal), Gilberto Gil (A Linha e o Linho), Antonio Almeida e João de Barro (Felicidade) e Glenn Miller e Mitchell Parish (Moonlight Serenade).

Sempre de sorriso aberto, Diogo agradece ao repórter, com abraço, o espaço na mídia. Aos possíveis 'cri-cri' de plantão, defende que o lançamento simultâneo com a irmã foi apenas coincidência. Reforça que as influências são "diferentes" ("ela ouvia Fela Kuti, eu, Dick Farney"). E tece elogios à irmã seis anos mais nova. Conta que, juntos, monitoram o que sai sobre eles em blogs e comunidades de relacionamento. Um dia deparou-se com um tópico que sondava onde sua irmã morava. Entre um chute e outro, surpreendeu-se com uma resposta: "Gente, vocês estão desligados. A Céu mora no prédio ao lado." Para Diogo, a frase representa a essência da sua irmã: "Ela é simples, possível. Ela está no prédio ao lado."

Paulista da gema, Diogo sabe que está em uma profissão de risco. Reconhece que tem a voz 'pequena, mas está surpreso com sua cara de pau. E estima conquistar um público diferente da irmã. "Meu show não é necessariamente para dançar. Quero que ele seja um acontecimento musical. E acho que estou chegando lá".

*Publicado no Caderno 2, n'O Estado de S. Paulo de 20/8/2009

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