sexta-feira, 14 de novembro de 2008

a discussão do vazio

A independência frustrada em cena no Coletivo Fábrica


Beatriz é... atriz. E justifica o 'destino' pelo próprio nome: "de "be" (inglês) atriz: ser atriz". Fred Fausto é um artista plástico egocêntrico. E Ghandarva uma cantora de bossa lounge. A primeira se gaba de encenar no palco para um único espectador, que se masturba ao vê-la em palco e sai na metade do espetáculo. O segundo faz bico no hypado Ritz. A terceira se limita a ficar em casa praticando yoga. A tríade mora junto, sob um apartamento cujo aluguel não é pago há três meses. E quem disse que eles se importam? Eles são artistas, alma de artista, cabeça de artista. Gostam de filosofias de artistas e de drinks e 'cigarrinho' de artista. Uma vida aparentemente colorida, cheia de risos e muita inteligência. Mas a realidade não é esta - e eles sabem, só fingem não enxergar. "Nós não temos de preocupar com aluguel. Nós somos artistas", brada o artista plástico. Sua principal obra na carreira? Fezes humanas em chamas. Até que surge a idéia de um manifesto, como se aquilo fosse salvar a vida deles. Ledo engano (e eles sabem!). Precisam apenas de algo para matar o ócio.
Em meio a uma filosofia de independência, Fred, Beatriz e Ghandarva enganam a eles mesmos. Não entendem porque Mallu Magalhães, uma menina de 16 anos, faz sucesso porque canta folk. E tampouco idealizam aparecer na TV ("Jamais! Isso é comercial. E a arte não é comercial"). O discurso é presente em muitos artistas da cena atual. E é justamente o que revela de forma bem-humorada a peça Artistas, de Waldemar Neves, em cartaz no Teatro Coletivo Fábrica. Por que, no fundo, a história de independência nada mais é do que uma máscara para justificar o seu fracasso. Afinal, que artista faz arte para você mesmo? Que artista quer que sua expressão se limite ao seu consciente? Isso não é arte. Arte é alcance, é público. Por que artista é egocêntrico, como jornalistas e tantos outros profissionais. E tudo o que qualquer um quer é ser bem-sucedido. E este patamar para artistas é ter reconhecimento. É ter admiradores. É ter mídia.
E é isso que Beatriz, Fred e Ghandarva também querem. Vá ao Coletivo Fábrica, ria e reflita sobre isso. É o que Marina Wisnik, Luiz Gustavo Jahjah e Bruna Lessa (atores da peça) vão proporcionar a você.

Teatro Coletivo Fábrica. R. da Consolação, 1.623. Quartas e quintas, 21h30. R$ 10 a R$ 20. Até 4/12.

2 comentários:

Juliana disse...

eu gostei muito. também recomendo.
bjs!

Felipe Sant'Angelo disse...

Obrigado pelo destaque e pela presença na peça. Grande abraço!