segunda-feira, 20 de julho de 2009

a simplicidade das coisas


Exibido na última edição de Cannes, fui com poucas expectativas conferir 'À Deriva', novo longa de Heitor Dhalia ('Nina' e 'O Cheiro do Ralo') que estreia dia 31 nos cinemas. Me surpreendi. E, dentre vários motivos, principalmente pelo fato de que o cineasta sai do surrealismo cômico de 'Cheiro do Ralo' para se aprofundar, com simplicidade, em conceitos de família e paixão. Que daí derivam (e isso não é uma analogia ao filme) para outros temas, como traição e a descoberta da sexualidade aos olhos da protagonista estreante Laura Neiva (no papel de Filipa). Há algum tempo o cinema incursiona neste tema - principalmente, sobre a verdade e as mentiras do amor perfeito. Mas Dhalia consegue se destacar. Com uma bela direção de arte e figurinos meio vintage de Alexandre Herchcovitch, 'À Deriva' mostra uma menina adolescente que passa as férias em Búzios com a família e se vê atônita entre as descobertas do amor e a traição do pai, com a belíssima Camilla Belle. Vincent Cassel (Mathias) e Debora Bloch, os pais da menina em atuações surpreendentes, revelam aos poucos as agruras de uma relação a dois. As dificuldades em manter as aparências diante de três filhos pequenos e a insistência de manter a relação entre quatro paredes. O que se revela ao fim, e de forma muita presente na sociedade atual, é: vale mesmo a pena renunciar à felicidade em nome de uma estabilidade familiar? Vale mesmo surrar o amor até as últimas consequências para ver se ainda dá certo? Mathias ama sua mulher - e vice-versa. Mas há outras questões em xeque. Que são pinçadas com extrema delicadeza e poesia por Dhalia. E mostram que no conjunto não dá para ser tudo na vida. E que a felicidade plena é uma ilusão. As renúncias são inevitáveis.

Um comentário:

eu disse...

é oque ja vimos nas pontes de madisson, as renuncias são doloridas e inevitáveis. como dizia vinicius de moraes: é melhor viver do que ser feliz.