Sem dúvidas, o show do Radiohead foi um acontecimento inesquecível em 2009. No palco, uma das mais importantes bandas de rock. Na pista, um público estático, acompanhava cada detalhe sem qualquer devoção exagerada. Esse vídeo encontrado no YouTube compila todo o show por meio de registros de celulares e máquinas digitais.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
mulher tira-gosto?
Conhecem Catarina Dee Jah? Não, ela não é do reggae, que fique claro. Vem do Recife, mas também não é seguidora do mangue beat. Faz música brega - de respeito.
"não sei o que vão pensar, se você não vier me lanchar/ sai pra lá encosto/ não quero ser sua mulher tira-gosto".
ex-menininha
Mallu Magalhães cresceu - saltou de 1,63m para 1,73m em apenas um ano. Mas o crescimento não é apenas físico. A garotinha que despontou no MySpace com o folkzinho-chiclete 'Tchubaruba' também evoluiu musicalmente. Seu segundo disco, produzido por Kassin, 'o cara' do momento', mostra desenvoltura em ascensão, ao contrário do chatinho primeiro álbum, cuja assinatura musical é de Mario Caldato Jr (outro foda do meio). O clipe acima é do delicioso reggaezinho 'Shine Yellow'.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
música do ano
segundo o Pop Load, esta agitada e deliciosa música do Phoenix foi a sensação indie de 2009. É f-o-d-a mesmo.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
mais kassin
Outra boa de Kassin, 'Calça de Ginástica'.
"Eu quero transar com você / No banheiro de paraplégicos / Vestindo calça de ginástica"
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
música da virada
Caê canta 'Água', música de Kassin. Eu, como ele, vou ficar aqui torcendo para tudo melhorar - juro que vou!
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
nostalgia boa...
Chico, Djavan e Gil cantando por Lula. E vários artistas expressando voluntariamente seu voto. Enquete boa: qual deles ainda é da ala 'Lula-Lá'? Olha esse povo novinho... Felipe Camargo, Malu Mader, Zé Mayer... Eu tinha 4 anos em 1989 e essa musiquinha continua...
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
o pitanga de ouro
"Acredite. A 11ª Câmara Cível do Rio aceitou, por dois votos a um, o pedido de uma moça que queria anular seu casamento porque o... digamos... 'pitanga' do marido seria muito grande. O relator votou pela improcedência, sob o argumento de que ela chiava 'justamente do que é o desejo de toda mulher'.
É mole Simão? Mas, pelo visto, sobe!
Rumos de Copenhague
sábado, 12 de dezembro de 2009
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
"Riscos me deixam feliz"

Sem contrato com a Globo, Eduardo Moscovis segue com projetos pessoais. E diz que incentivo cultural é “desgastante”
Por Pedro Henrique França, do RIO, para Sonia Racy
São 16h15, sábado em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. “Já terminamos aqui, vamos tomar um café?” O chamado é do ator Eduardo Moscovis, a três quadras do repórter, no Forneria São Pedro. Ele finaliza o vinho rosé com a mulher Cynthia Howlett (com quem está há sete anos) e o sogro. Antes, dividiu um carpaccio de salmão e degustou uma lasanha de legumes. De sobremesa, mil folhas.
Du, como é chamado pelos amigos (como Debora Bloch que encontramos na saída), é do tipo low profile, que faz piada com os garçons. E não gosta de aparecer na mídia. No dia anterior à entrevista, estreou, no Espaço Cultural Sérgio Porto, a peça Corte Seco, de Christiane Jatahy. Um espetáculo instigante, em que o exercício do ator se renova a cada sessão. A diretora permanece no teatro todos os dias e decide, ao vivo, alterações no texto. Du sabe do risco – profissional e pessoal – e se diz motivado por isso. “Achei o Pedro sério ontem na plateia”, diz a Cynthia. “Gostou?”, interpela.
Programada para meia hora, a conversa se estende para quase duas. Na mesa, entre um chope e outro do repórter, ele debate questões como a polêmica do prefeito Eduardo Paes (PMDB), que ameaçou suspender a coleta por um dia para que os cariocas vejam o quanto poluem as ruas. Flamenguista e pai de três meninas (Gabriela, 10, e Sofia, 9, do primeiro casamento; e Manuela, 2, com Cynthia), discorre de política ao caso Geyse, da Uniban. “Acho tudo uma loucura.”
Além de Corte Seco, planeja para janeiro o início das leituras de seu primeiro monólogo, O Livro, com direção de Christiane e texto de Newton Moreno. Du deve vir em março com as duas peças a São Paulo. A seguir, a entrevista na íntegra (também disponível em versão editada na edição de hoje, do O Estado de S. Paulo na coluna da Sonia Racy, no Caderno 2).
Como surgiu Corte Seco? Eu estava num movimento de querer fazer um monólogo. Ano passado, quando fiquei em cartaz em São Paulo com Por Uma Vida Um Pouco Menor Ordinária, tive a oportunidade de conhecer melhor o trabalho do Newton Moreno. Fiquei fascinado. Até que chegou O Livro, de um texto dele. Conversamos sobre quem poderia dirigir. E chegamos ao nome da Chris (Christiane Jatahy).
E como acabou entrando Corte Seco? Aconteceu que ela estava já envolvida com esse projeto. A princípio, ela faria então essa peça e depois me dirigia no monólogo. Até que ela me chamou para um café e falou “Para que esperar separado se a gente pode trabalhar junto?”. Ela argumentou que se eu já estivesse no Corte Seco o próximo trabalho seria mais fácil. Fiquei na dúvida mortal do geminiano, mas acabei aceitando.
Sobre o que irá falar O Livro? Ainda não está definido. O texto é sobre um adolescente que recebe um livro no qual revela uma indicação da sua vida. É um lance hereditário: quem recebe sabe que é o ‘escolhido’ para perder a visão. Mas combinei com o Newton e eu e a Chris vamos levar material, discutir e levar isso a ele para pensar os caminhos. O Newton diz que é um texto sobre espiritualidade, mas podemos ter uma outra visão.
E por que um monólogo? A ideia é ter um espetáculo de manga, que eu possa montar ele quando e onde eu quiser. Achei que era a hora.
A atual, Corte Seco, é uma peça difícil. Você reconhece estes riscos? Tem o meu risco pessoal, por disponibilizar cinco meses da minha vida abdicando de outros projetos. O fato de ele ser muito autoral tem o risco do que está tendo de resultado no público. O único risco apreensivo, no sentido de estimulante, é o de ficar a mercê da diretora, que te obriga a ficar de alerta para as mudanças. Mas todos esses riscos me deixam feliz. O valor da pesquisa, da linguagem, do meu processo de improvisação está ganho. Agora é ver onde a gente pode mexer dentro dessa linguagem.
Você está a três anos sem contrato com a TV Globo por uma opção pessoal tua. E os riscos financeiros? Eu me organizei para isso, me planejei. Eu tenho um custo de vida alto, né? Tenho ex-mulher, três filhas, mulher atual. Eu quis isso. Precisava dar uma redirecionada na história. Minha relação com a emissora sempre foi muito boa, mas eu precisava me motivar, tentar caminhos diferentes, desvincular um pouco minha imagem que a TV massifica. Queria ser mais dono das minhas escolhas.
Mas o fato de estar no ar não colabora para conseguir patrocínio para os projetos teatrais? O fato de estar no ar e conseguir patrocínio é uma máxima que não é exatamente a verdade. No meu caso, as peças que fiz não eram comerciais. O público que porventura foi me assistir por conta da TV talvez tenha se decepcionado (risos). Mas no mínimo viu uma coisa diferente.
Mas você tem essa segurança de que a hora que você quiser você volta para a TV? O mais interessante disso é o “a hora que eu quiser” ao contrário. Não tem a hora que eu quiser. Por isso, o mais interessante é o esforço em me manter bem para que as pessoas se interessem por mim. Eu quero é abrir o leque: cinema, teatro, TV...
Qual é seu momento agora? De fazer coisas diferentes. Quero explorar mais e conviver com o cinema. No teatro, conseguir fazer um monólogo, que nunca fiz, e em paralelo estar num projeto com dez atores. É como em Corte Seco, no sentido de trabalhar as possibilidades. Estar num caminho e, de repente, ir para o outro.
Mas imagino que, mesmo sem contrato fixo, você tenha sido sondado para novelas. Essas recorrentes recusas não podem te atrapalhar? Esses ‘nãos’ existiram, mas não foram aleatórios, gratuitos. Por sorte, ou não, eu estava ocupado quando recebi esses convites.
Como você entrou nesse universo de ator? Eu fazia Administração de Empresas, trabalhava com meu pai. Mas quando estava no segundo ano, tranquei. No início de 1989, eu sofri um acidente de carro na Dutra e tive que ficar de molho em casa. Um dia, encontrei uma amiga que estava indo para um curso livre de improvisação. Quando o Damião foi remontar ‘Os 12 Trabalhos de Hércules’ me candidatei. E aí começou: fui para O Tablado, depois para Oficina de Atores da Globo.
Seu primeiro grande sucesso foi com Nando, de Por Amor, em que você fazia par com a Carolina Ferraz. Te assustou? Na verdade eu já estava há uns seis, sete anos vivendo isso. Minha primeira novela, que foi Pedra Sobre Pedra, já foi bem legal. Depois, protagonizei As Pupilas do Senhor Reitor. Então, não me assustou muito, mas comecei a olhar a coisa de uma outra maneira. Veio no momento certo, já estava mais maduro.
Que outra visão é essa? Cara, eu não compro, nem cultivo essa visão de celebridade. Aconteceu, vivi, foi ótimo. Mas não me deslumbra. Estamos aqui conversando, os dois de chinelo, e está tudo ótimo.
Paparazzis te incomodam? Me irrita, sim. Finjo que não vejo. Quando estou de bom humor até tento lidar melhor com isso. Mas não concordo, acho abusivo. E a internet aumentou muito esse mercado. De repente, a gente tá aqui o cara vem e bate uma foto. Ou o cara vai pega um guindaste e tira foto da filha de não sei quem. Não é nada, mas já é notícia. Então, me incomoda, sim, eu estar na praia e ter um cara a dez metros clicando tudo e eu não poder fazer nada. Acho que poderia ter um mecanismo de proteção melhor para isso. Tem limites para tudo.
Você, pai de três meninas (Gabriela, 10 anos, e Sofia, 9, do primeiro casamento; e Manuela, 2, com Cynthia), o que achou do caso Geyse Arruda, da Uniban? Machismo de lado, achei tudo uma loucura. Desde ela ir com aquele vestido, o que em nenhum momento deveria provocar aquele tipo de reação nos estudantes, até ela ser expulsa pela universidade. E de repente ela ter interesse em posar para a Playboy.
O Eduardo Paes causou polêmica com a questão do lixo carioca ameaçando suspender a coleta por um dia. O que você acha disso? Tem os dois lados. Tem que chamar atenção mesmo para o fato, mas tem uma coisa que é cultural daqui e independe da classe. Tem nego de Mercedes que joga maço na rua. Mas o resultado, caso essa medida seja realizada, é que a cidade vai ficar – ainda mais – fedida. Por outro lado, independentemente disso, ele (Eduardo Paes) vem se mostrando preocupado, tem um interesse mais sincero com nossos problemas.
Nesse sentido, você crê numa melhora por conta da Olimpíada? Como pessoa otimista, claro que espero que as coisas melhorem e que essa galera (governantes) de agora utilizem isso da melhor forma. Mas sendo sincero, os últimos eventos, como o PanAmericano, provam o contrário. Não quero parecer pessimista, mas não posso ser ingênuo. Estou pagando pra ver.
Você não é um artista que associa sua imagem à política. Não gosta do assunto? Não me sinto seduzido por esse universo. Acompanho, mas tenho preguiça de falar disso. Mas no ano passado fiz uma coisa totalmente fora do meu perfil. Estava num jantar com amigos e a gente estava debatendo um movimento que existia de pessoas que queriam votar no (Fernando) Gabeira (candidato derrotado à Prefeitura do Rio) mas sentiam desperdiçando o voto. Cheguei em casa e fiz um e-mail para uns dez amigos convocando para uma caminhada em que todo mundo usaria uma peça verde (em alusão ao PV) para demonstrar nosso interesse. Não era um movimento político, mas de afirmação do voto. Mandei o e-mail e fui viajar para uma gravação. Dois dias depois, falei com a Cynthia e ela me disse que o negócio já estava uma loucura. No fim, até o Gabeira se envolveu e ele foi para o 2ºturno. Foi a única vez que me envolvi nessa história.
Já tem candidato para 2010? Existe esse movimento de Lula, os números de crescimento... Ao mesmo tempo, tantos escândalos sublimados, envolvimentos familiares. Um posicionamento (do Lula) ou falta de... Não sei. Ainda não apareceu ninguém que me mostre uma nova possibilidade.
E com relação às discussões de políticas de incentivo cultural? Participa? Menos do que eu gostaria. Mas vou te falar, essa questão de incentivo é tão desgastante. O que é pleiteado é tão pouco. Dá uma sensação de mendicância. Aí os caras vem com a contra-argumentação que tem que investir em saúde, educação... Sinto que às vezes (a cultura) parece uma coisa supérflua. Tá, tem cara sem casa, sem saneamento. E isso deve ser feito, mas não é um problema exatamente nosso. Aí a gente acaba se virando, mas bem longe do jeito que poderia ser.
domingo, 6 de dezembro de 2009
pós-sambacana
Maria (Lutterbach) do Bairro, DJ estreante na SamBaCana Groove, ontem na Livraria da Esquina, dedicou seu set ao "axé de qualidade". Entre outras pérolas, como Swing da Cor, de Daniela Mercury, Maria disparou esse hit brega de Reginaldo Rossi: 'Em Plena Lua de Mel'. A música foi gravada pelo irreverente Pedra Letícia - em duo com Reginaldo.
"Dizem que o seu coração voa mais que avião/ dizem que o seu amor só tem gosto de fel / Vai trair o marido em plena lua de mel".
ato artístico contra a violência
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O Parlapatões convoca uma vigília artística para hoje (6). É uma homenagem ao dramaturgo Mário Bortolotto, baleado na madrugada de sábado numa tentativa de assalto. E que se recupera bem, segundo os médicos. Abaixo, comunicado na íntegra do Parlapatões. E que viva a arte e Bortolotto, num ato contra a violência covarde da nossa cidade.
"O Teatro Resiste!
Bortolotto Viverá!
O espaço público é do cidadão.
O Teatro não vai se intimidar com a violência, muito menos se submeter aos bandidos, aos que querem a escuridão nas ruas, aos querem que o povo fique em casa, acuado.
Mário Bortolotto é um símbolo de nossa Praça Roosevelt. Seu estado de saúde é grave, mas está resistindo e viverá.
Vamos nos reunir no Espaço Parlapatões, hoje, dia 06/12 (domingo), às 21h, para mostrar o quanto queremos que nosso amigo se recupere completamente.
Nosso amigo Carcarah, também atingido, passa bem e está conosco em pensamento pela recuperação do Bortolotto.
Não apresentaremos a peça O Papa e a Bruxa, para que todo nosso elenco, artistas, produtores, técnicos e funcionários do teatro possam participar desse ato.
Chamamos os amig os, artistas, público, freqüentadores da praça, vizinhos, jornalistas e todos os que se dispõe a enfrentar a violência para vir a este encontro.
Vamos ler trechos de suas peças, seus poemas e vamos mostrar que o nosso palco não está a serviço das tragédias reais, mas que faz dramas, comédias e tragédias para dar fôlego à sociedade para enfrentar suas mazelas.
Compareça! O Teatro resistirá mais uma vez.
Bortolotto viverá e escreverá muito mais de nossa história!
A praça é do povo, da cultura, da comunhão, da arte e da paz!
Dia 06/12
Domingo, às 21h
Espaço Parlapatões
Praça Roosevelt, 158"
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
o rei e as emoções de volta ao ibirapuera
Depois de nove shows lotados no Ginásio do Ibirapuera, entre agosto e setembro, os súditos do Rei vão poder provar, mais uma vez, como é grande o amor que sentem por Roberto Carlos. Na 5ª (10), ele volta ao mesmo palco – com suas emoções (e rosas). O show, divulgado às pressas pela produção, faz parte da gravação do tradicional especial de fim de ano da TV Globo. Desta vez, porém, será em São Paulo (e não no Rio) e, veja só, aberto ao público. Até o fechamento desta edição, havia ingressos disponíveis para arquibancada (R$ 60) e cadeiras
(R$ 240). O roteiro prevê seus grandes clássicos – como ‘Emoções’, ‘Jesus Cristo’, ‘É Preciso Saber Viver’ e ‘Calhambeque’.
A novidade fica por conta dos convidados: Ana Carolina, o sertanejo Daniel e a atriz Dira Paes são presenças confirmadas.
Ginásio do Ibirapuera. R. Manuel da Nóbrega, 1.361, 4003-1212. 5ª (10), 21h. R$ 60/R$ 240. Inf.: www.ingressorapido.com.br
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
paticumbá
É Sargento, o samba agoniza mas não morre. Nem morrerá, jamais. Enquanto houver Teresa Cristina, Ivone Lara, Pedro Miranda, Fabiana Cozza, Quinteto em Branco e Preto, Roque Ferreira, Beth Carvalho, Chico Buarque, Bethânia, Zeca Pagodinho, Paulinho... Enquanto sobreviverem no imaginário Cartola, Ataulfo, Ismael, Roberto Dias, Cavaquinho... É difícil, impossível, listar tantos bambas que mantém viva as batucadas. Só posso te dizer que meu amor é sincero e incondicional. A par de qualquer modernidade, você é nº 1. É aquele que cura tristezas me fazendo cantá-las como se não houvesse amanhã. É aquele que me preenche a cabeça nos momentos mais felizes. É onipresente.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
barata, ets e minhoca
A cantora do vídeo acima é de Pernambuco. Mas não dedica seu som ao surrado mangue beat (oba!). Lulina faz pop rock divertido cheio de metáforas para fugir da realidade (sim, barata, minhocas, ets). A música do vídeo postado é uma versão de 'Mulher Amélia' às avessas. Em tempo: faz show hoje no recém-inaugurado Teatro Cacilda Becker, na Lapa. Pelo mesmo palco também passa Marcelo Jeneci (outro do qual também já falei por aqui). Vale o confere.
dialecto urbanus
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
é, ele continua...

Sim, lá vem ele falar do Rio. Um dia, três, dez, um mês. Independe do tempo que dura a estadia, eu volto melancólico. E tem sido cada vez mais difícil voltar de lá. O Rio é e continua sendo... E eu me identifico com cada curvinha dessa cidade. Com o jeito mal-humorado e sem papas na língua, o descompromisso do "vou te ligar" (e não liga), mais um chopinho no Informal, uma paradinha no Sorvete Itália, dormir na praia em meio a incessantes gritos de Mate, Biscoito Globo, queijo coalho e Skol (nesse, estou sempre de olho). Nesta última fiquei totalmente zona sul. E totalmente curtindo o dia, a Lagoa e o miolo Coqueirão-Posto 9... É. O Rio é bom a qualquer hora. E é pouco dizer que eu amo o Rio, e por isso mesmo não vou divagar horas a fio sobre ele. Tenho ele em cabeça e coração. E isso já é um acalento.
sábado, 28 de novembro de 2009
de batuta em batuta

Acordes de um pai para dois filhos
Petrobras Sinfônica lembra 10 anos de morte do fundador, Armando Prazeres
Pedro Henrique França, do RIO
Carlos e Felipe Prazeres ouviram, na infância, pouca música daquela que pode se considerar "normal". Sim, tiveram LP dos Menudos e do Lulu Santos. Mas foi só uma fase. Na escola, omitiam o gosto por Mozart. E depois das aulas, não iam farrear nas ruas do Alto da Boa Vista, zona norte do Rio. Com o pai, Armando Prazeres, passavam a tarde no salão nobre da Petrobras. E não que eles ficassem em uma espécie de creche do prédio executivo, nem que fossem exemplos de bons meninos (ambos foram reprovados mais de uma vez na escola).
Carlos e Felipe cresceram no palco, ao som de sinfonias e peças de Beethoven e outros grandes da música erudita. Explica-se: Armando Prazeres foi o fundador da Petrobras Sinfônica (que nasceu como Orquestra Pró-Música, em 72, e ganhou o nome da estatal, e seu amparo financeiro, em 87). A entrada precoce no universo erudito, porém, não foi nada forçado. "Meu pai era muito relax", dizem, quase em coro, os irmãos em uma noite abafada em Ipanema, após um chope e outro em um típico botequim carioca.
Carlos, hoje com 35 anos, e Felipe, com 33, deixaram de ser meros contempladores dos acordes da orquestra e das regências do pai com, respectivamente, 13 e 11 anos. O mais novo se encontrou logo no violino, enquanto Carlos oscilou entre o violoncelo até se firmar no oboé. Entraram na orquestra já no fim da adolescência. E encararam cedo os comentários maldosos de "olha lá, os filhos do fundador". Mas conquistaram o respeito (Felipe é atualmente spalla da orquestra, e Carlos o maestro-assistente do titular Isaac Karabtchevsky, à frente desde 2004). As lembranças se confundem num misto de saudade com o tom de superação, sempre tendo o pai como referência. Em janeiro de 99, Carlos e Felipe foram atingidos de frente pela violência do Rio. O pai havia sido encontrado morto no subúrbio (a versão apresentada de latrocínio até hoje os confunde). Com alguns meses de atraso - por conta da crise econômica -, Carlos e Felipe lembram, hoje e amanhã, os 10 anos de morte em concerto-homenagem na Sala Cecília Meireles, com a Orquestra Petrobras Sinfônica, dentro da série Portinari, e participações do soprano Bernardo Francisco Speranza (menino de 9 anos) e do barítono Marcelo Coutinho, além do Coral dos Canarinhos de Petrópolis. O programa tem obras de César Guerra-Peixe, Vaughan Williams e Fauré. E uma do pai: Improviso para Cordas, encontrada somente anos depois da morte de Armando. Na terça, tem nova récita, desta vez sem a presença de Felipe (e com uma peça de Claudio Santoro, em troca de Vaughan Williams).
"Não foi fácil passar por tudo isso", lembra Carlos. O "tudo isso" abarca uma série de desdobramentos que vieram após o trágico ano de 99. Com a morte de seu idealizador, a orquestra teve sua história ameaçada em virtude de acontecimentos que envolviam o apoio da empresa mantenedora, a Petrobras. E passou por atritos familiares - que hoje Carlos e Felipe evitam repercutir. Tudo isso, dizem, são etapas passadas, vencidas. "Pelo amor à música", pontua Carlos, repetindo quase que um mantra do pai.
Há dez anos, Carlos e Felipe ainda eram estudantes promissores da música. O primeiro havia acabado de ir estudar com a Filarmônica de Berlim (para Armando, a meca da música erudita). Felipe, por sua vez, estava em Curitiba para uma récita. Os dois viram Armando vivo pela última vez no aeroporto - um "até logo" que jamais pensavam que seria eterno. Em lados opostos do mundo, eles reagiram à morte com uma certa frieza, como se não acreditassem no que ouviam ao telefone. Eles queriam honrar seus compromissos, numa clara tentativa de fuga da realidade.
Hoje recordam de Armando como se ele tivesse dito ontem, em trânsito na Estrada Velha da Tijuca, ainda no início da adolescência: "Acho que já está na hora de vocês tocarem um instrumento." "Creio que meu pai nunca imaginou até onde íamos chegar", diz Carlos.
Ao serem questionados se ainda garotos não tiveram vontade de seguir outros caminhos, eles hesitam. "Ah, eu pensei em ser motorista daqueles carrinhos de aeroporto. Mas passou rápido", diz o mais novo. Carlos não conseguiu lembrar de nenhum outro sonho profissional. O pai não ensinou a eles a emoção do futebol: o time escolhido, o Vasco, foi influência dos tios por parte de mãe. De Armando, como se vê, ficou mesmo a vocação e a paixão pela música.
Ao prospectar o futuro, Carlos prevê o dia em que terão de se afastar para tirar o clima de "corporativismo". Vai ser difícil, eles sabem. Mas vão saber encarar numa "relax", como bem ensinou Armando.
*Publicado originalmente no O Estado de S. Paulo, no Caderno 2, edição de 28/11/2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
eterna negrita
Mercedes Sosa nos deixou em outubro. Foi uma perda inestimável para a música latina. E a geração de hoje sabe disso - ainda bem. A eterna negrita tomou a iniciativa da aproximação. No CD 'Cantora' ela registra belissímos duetos com alguns representantes atuais. Acima, Mercedes canta com o uruguaio Jorge Drexler a delicada 'Sea'. Um deleite para os ouvidos.
Mano Brown pop? E daí?
a propósito...
Para quem ainda não viu, segue o trailer oficial de 'Lula, O Filho do Brasil', longa de Fábio Barreto que estreia dia 1/1/2010 nos cinemas. Pode ser uma bandeira eleitoral, de fato, como brada a oposição. Mas não há o que dizer (nem fazer): vai estrear e ponto. E as expectativas de bilheteria são grandes (fala-se em 10 milhões). Vem aí um novo recorde nacional, sem dúvida.
o medo do vampirão
Diz a pesquisa que o Serra perdeu 15 pontos porcentuais em relação ao início das pesquisas em dezembro do ano passado. Neste cenário é coerente que ele repense sua entrada. Aécio, por ser uma nova candidatura, a meu ver, tem mais condições de crescimento e fortalecimento da legenda tucana. Serra dificilmente angaria novos votos - talvez, com a saída de Ciro da disputa para sair candidato a governo de São Paulo. Os tucanos, por sua vez, insistem que Serra deve entrar na disputa presidencial (diante das atuais pesquisas é, fato, o nome mais forte da legenda).
A chapa já está esquentando. Vem briga boa pela frente.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
sim, eu concordo com a Veja

Era o que me faltava. Digam o que quiserem da Revista Veja, mas a matéria de Marcelo Marthe desta semana está correta do começo ao fim. Na reportagem, ele fala sobre a nova polêmica de 'Viver a Vida': o tapa na cara de Helena (Taís Araujo) dado por Tereza (Lilia Cabral). E diz em sua linha fina: "A humilhação de Taís Araújo faz com que Viver a Vida finalmente dê o que falar. Já tem até militante do movimento negro dizendo besteira". Pode parecer reacionário. Não, não é. Segue a matéria abaixo, na íntegra.
Na última segunda-feira, a novela Viver a Vida exibiu o que não havia exibido até aqui: cenas que o público comentou e comentou de novo nos dias seguintes. Acossada em sua própria casa por Tereza (Lilia Cabral), a mocinha Helena (Taís Araújo) suportou calada a acusação de que seria culpada pelo acidente automobilístico que deixou a filha da megera, Luciana (Alinne Moraes), tetraplégica. Empapada em lágrimas (e, à falta de um lenço, limpando compulsivamente o nariz com as mãos), Helena então caiu de joelhos para suplicar perdão. Tereza não deixou barato. Aplicou-lhe uma sonora bofetada, mas sem perder a fleuma: enquanto batia com uma mão, mantinha a outra elegantemente enfiada no bolso do terninho.
No mesmo capítulo, Luciana sacudiu-se toda na cama do hospital ao ser informada pelos médicos de que estava incapacitada de se movimentar (quanto mais se sacudir) do pescoço para baixo. Para conjugar lágrimas com sangue, a cirurgia de reconstituição de sua coluna foi mostrada sem economia nos detalhes clínicos. Embora a audiência ainda esteja fraca, essas sequências "fortes" finalmente transformaram Viver a Vida em tema de discussão. Provocaram até reações dos chatos de sempre: as vertentes paranoicas do movimento negro ouviram ecos escravistas na humilhação de Helena por uma branca. As cenas também causaram comoção nos bastidores. Atores e técnicos se debulharam em lágrimas nas gravações do drama de Luciana. Após a cena do tabefe, o pessoal no estúdio aplaudiu. "A Taís chorou todo aquele volume de lágrimas de verdade, tadinha", diz Lilia Cabral. "Ela é emoção pura."
O episódio de segunda-feira marca uma guinada e tanto da personagem de Taís Araújo. Na primeira fase da novela, Helena era uma modelo altiva e segura de si. Mas sondagens feitas pela Globo demonstraram o óbvio: a protagonista não despertava simpatia. Ao contrário, passava a imagem de garota superficial e arrogante (na direção da emissora, há quem acredite que o problema esteja na inadequação da própria atriz: alguns acham que a colega Camila Pitanga funcionaria melhor). Espera-se que o sofrimento e a humilhação pelos quais está passando (já previstos na sinopse, ressalve-se) revertam a aura de antipatia. Trata-se de um caminho bem diferente do habitual para resgatar heroínas problemáticas. Tem sido mais costumeiro que elas não empolguem o público por serem boazinhas demais, no limiar da tontice. Para redimi-las diante do público, a receita é uma só: a mocinha tem de aplicar surras homéricas na vilã. Foi o caso de Maria Clara, a patetona vivida por Malu Mader em Celebridade, de 2003, que superou a chatice esbofeteando a rival Laura (Cláudia Abreu). No caso de Helena, deu-se o contrário: precisou apanhar de uma megera para virar gente.
A humilhação de Helena ainda não surtiu nenhum efeito visível no ibope. Naquela noite, a audiência de Viver a Vida permaneceu nos mesmos 37 pontos que a trama das 8 já vinha alcançando na Grande São Paulo. Na quarta-feira, quando um número excepcionalmente baixo de televisores ligados prejudicou a audiência das redes em geral, despencou para 31 pontos - índice muito aquém do mínimo de 40 pontos esperados pela emissora para o horário. Se a escalada dramática não repercutiu na audiência, pelo menos deu combustível para o humor. A personagem de Alinne Moraes, que emergiu de um acidente violento com a maquiagem impecável e um band-aid na bochecha, deu mote para as melhores piadas. O colunista José Simão, da Folha de S.Paulo, comparou os lábios da atriz a um "bico de tênis Conga". E há quem diga que sua boca finalmente se livrou do resto do corpo para brilhar sozinha. A paródia do Casseta & Planeta foi mais cruel com a personagem deficiente do que com a atriz: uma das piadas do programa, na semana passada, afirmava que Luciana sairá do hospital "com um pé nas costas". A crueldade, aliás, ganha voz na própria novela, com a viborazinha Isabel (Adriana Birolli) - cujo primeiro impulso ao saber dos impedimentos físicos da irmã mais velha foi o de se apossar da barra de balé que Luciana tinha no quarto.
Heroínas de novela foram feitas para sofrer desbragadamente. Comparadas à agonia de Alinne Moraes, que agora só pode mexer o bocão e os olhos verdes, as chorosas tribulações de Taís Araújo são fichinha. Mas os patrulheiros da ideologia racial nada entendem de drama televisivo. No site da CUT, Maria Júlia Nogueira, secretária da central sindical pelega, tascou sua sentença: "A Globo humilha os negros no mês da consciência negra". A escalação de Taís para protagonista de uma novela das 8 - e o fato de sua personagem ser uma mulher de sucesso sem ter de levantar bandeiras - prova exatamente o contrário.
irmã da vida

Hoje é dia dessa loirassa aí ao meu lado. É com ela que eu passo aqueles momentos bem cafonas de ligar um Zezé di Camargo ou um Caetano no último e cantar para quem quiser ouvir. E se não gostar que feche o vidro. A gente é folgado assim mesmo, malucos. Gostamos de um mundo divertido, nada sem graça e com muita cerveja - aquela né rê, bem branquinha. Aliás, num dia como esse só podia ter chuva, suor e cerveja. Foi por isso que os deuses promoveram nosso encontro. Porque somos intempestivos como uma chuva de 3 da tarde, sempre atrás daquele nosso raio de sol, escondido em algum lugar por aí. E a cerveja? Bom, essa é a única que a gente tem certeza de estar sempre ali. Hoje é dia de Renata Megale. E de um pequeno coração bater mais forte, só pra ela.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
imperdível
depois da série 'kill bill' (que não, eu não sou fã), quentin tarantino retorna com 'bastardos inglórios', um filme simplesmente espetacular. falo isso com atraso, eu sei. mas quem ainda não viu, não deixe de ver. na telona!
sir sting
depois do show do the killers passei o domingo pensando se eu ia me enfiar no kit-roubada-chácara-do-jockey outra vez. ou se optava pelo monumento joss stone (aí é covardia...) no hsbc brasil. cogitei não ir em nenhum. mas a profissão falou mais alto... e venceu a preguiça. ok, vamos ver sting. valeu a pena. o cara é um puta músico - é completo. a chuva, ao fim do jason mraz, fez pensar o quanto tudo teria valido a pena. por volta das 22h30, na reta final para encerrar o show, já depois de 1h30, veio a certeza de que veteranos do rock geralmente obtêm tal título pq honram suas medalhas.
domingo, 22 de novembro de 2009
puta encontro
achei esse outro vídeo. muito foda: a menina (e poderosa) joss stone ao lado de ninguém menos que o rei do funk, james brown. fodido!
pés descalços
domingueira de pés descalços no palco. na chácara do jockey, jason mraz entoa o hit (chiclete) pop 'i'm yours'. mas vale mesmo sair de casa para ir até o hsbc brasil ver o monumento joss stone, em lançamento de 'color me free'. o vídeo acima é uma das boas pérolas do disco.
sábado, 21 de novembro de 2009
faces do (bom) exagero

Recentemente tive a oportunidade de entrevistar Ney Matogrosso ao vivo, no estúdio do SBT, minutos antes de entrar para gravar o Programa da Hebe. Ney falou sobre o novo disco, 'Beijo Bandido', simulou a sedutora interpretação de 'Nada Por Mim' apoiado em um banquinho, mas lembrou que o atual trabalho nada tem a ver com um momento autobiográfico, com uma paixão pessoal. "É romântico, mas nada melancólico", disse. E ele ainda ama? "Claro, não estou morto, tenho testosterona ainda". Emendo que certo dia falei com Erasmo Carlos e ele me admitiu ter saudades da parte física obecer de imediato o que a mental quer. Ney faz cara de sarcasmo, de gracejo. E diz: "Ah, a minha obedece".
O homem que revolucionou a arte com Secos e Molhados diz que o frenesi feminino o acalenta. Confessa que teve medo de ser rejeitado. "Achava que as mulheres fossem me achar uma coisa esquisita. E é claro que não queria isso, não queria ser rejeitado". Ele pede uma pausa para fazer um trabalho de 'desentupimento'. "Tenho um desvio de septo, sou todo entupido". Entra no banheiro com um remédio e produz sons, bem, não muito agradáveis.
Retoma a entrevista. Chego ao seu ponto C, de Cazuza. Questiono se incomoda esse diz-que-me-diz em torna dessa relação. "Sim. Não falo mais sobre isso. Nem sobre Cazuza, nem sobre Secos e Molhados". E por que? "Porque a entrevista vira só aquilo". Lembro que uma última entrevista que abordava bastante isso havia sido publicada na Folha de S. Paulo, na coluna da Mônica Bergamo. Ele diz que foi a partir de então que decidiu encerrar o assunto. "Porque se não toda a entrevista vira só isso. Fica parecendo que eu quero me promover em cima do Cazuza".
Aproveito para retomar as recentes declarações de Caetano Veloso ao Estado de S. Paulo, na Sonia Racy. Ele faz cara de reprovação. Pergunto se é um erro da imprensa buscar personalidades para falar sobre tudo, como se Caetano fosse um expert em todos os temas. Ney concorda. "Um dia me ligaram para repercutir a separação do Chico (Buarque) com a Marieta (Severo). O cara me pergunta o que eu achava disso. Disse que não achava nada, que eles eram maiores de idade e sabiam o que fazer das tuas vidas. O cara ainda ficou puto. E o que eu tenho a ver com isso?".
Ainda assim ele se manifesta sobre política "como um brasileiro que acompanha essa pouca vergonha". "Acho bom a entrada da Marina (Silva, do PV) para balançar o coreto da outra (Dilma Roussef, pré-candidata do PT). O presidente não pode achar que temos de seguir o que ele fala ou quer".
Rubrica
Reproduzi esse encontro, parcialmente publicado no Guia do Estado da semana passada (13/11), porque estava revendo o 'Por Toda a Minha Vida', exibido na última quinta na TV Globo, que falou de Cazuza. Ney aparece no programa. Dá seu depoimento. E diz que Cazuza foi muito mais do que sexo - foi um amor. Ano que vem faz 20 anos que Cazuza morreu e que a música ficou um pouco mais sem graça, careta, medrosa. Poucos falaram de amor e de política como esse eterno exagerado. Ainda bem que temos Ney Matogrosso. Um outro igualmente exagerado: um veneno antimonotonia.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Um feliz encontro de ausências

Tema incômodo, peça imperdível
Hamelin, sobre pedofilia, com o galã Vladimir Brichta, é a grata surpresa da atual temporada paulistana
"Um dia minha filha chegou com uma mordida no braço. Perguntei o que era. Ela disse que tinha sido a babá. Mas a babá me deu outra versão. Fiquei em conflito, mas, ainda que minha filha estivesse mentindo, afasteia moça do serviço." O relato do ator Vladimir Brichta ao repórter do Estado ocorre em cima do palco, momentos antes de protagonizar Hamelin, em cartaz até o dia 29 no CCBB. Com um caso real, expõe uma das essências do drama policial que protagoniza há um mês: a possível dissimulação infantil.
O texto do espanhol Juan Mayorga, adaptada por André Paes Leme, centra a história num suposto caso de pedofilia que envolve um figurão da cidade (Alexandre Mello). Vladimir é Monteiro, o juiz que busca incriminar o sujeito. Mas ele tem apenas imagens coletadas do computador do acusado, além do depoimento do irmão mais velho da "vítima". O juiz vai ouvir então a criança. Pergunta três vezes, até extrair a afirmação de que o homem o tocava durante o banho, nos fins de semana em seu sítio. "Mas ele insiste na pergunta para conseguir a verdade ou para forjar a mentira?," provoca Vladimir. "Em Hamelin, nada é conclusivo", emenda. Ao que o diretor intervém: "A conclusão é fácil, difícil é viver com a dúvida."
De fato, cabe ao espectador entender as dúvidas e os conflitos sugeridos em cena. Mayorga impõe rubricas levadas por meio de um comentarista. André Paes Leme ampliou a situação: todos os seis atores, com exceção de Vladimir, se revezam nos comentários, numa dinâmica pontual. Eles funcionam como ilustradores de cena, em perfeita sincronia. E intrigam, em situações como, por exemplo, a em que Monteiro se encontra com a psicóloga (Patrícia Simões) e não responde à mão estendida. Entra o comentário: "Monteiro ignora a mão estendida, ou finge que não vê. E a cumprimenta com um beijo." Monteiro não viu ou preferiu o contato mais íntimo? Quem forma (ou deforma a linguagem) é o espectador. "Ele é manipulado, como a sociedade nos manipula", pontua André.
PREENCHIMENTO DO VAZIO
Não há praticamente recursos cênicos em Hamelin. Apenas uma mesa, luminárias (que os atores acendem e desligam) e um "cantinho" do café. Também não há figurinos. "Me entedia a sensação de maquiagem. Meu trabalho é na essência dos atores", diz o diretor. O elenco se reveza em mais de um papel, como Oscar Saraiva, que atua como a criança abusada e o pai da mesma. Assim, em momento algum o encontro entre o pai e o filho se realiza.
Em 90 minutos, a trama se espalha para outros temas. É um dedo em riste em questões da sociedade e da família, que envolve o julgamento alheio, a manipulação e precipitação da imprensa (lembra o caso da Escola Base?) e o vazio entre a relação de pai e filho. Monteiro, veja só, busca a todo custo defender a criança do pedófilo, mas é impotente com a rebeldia da sua própria cria. Um dia, depois do trabalho, sua mulher conta ter sido agredida pelo filho. Ela apela para que Monteiro tente contornar a dramática situação. Ele nada faz.
São ações (e perguntas) como essas ou outras, a princípio ingênuas, como "Alguém quer carona para a missa?", que incomodam o espectador. "Imagina como deve ser para um pai ausente ver aquela relação do Monteiro com o filho. Ou pior: para um adulto, que por acaso goste de criança, se ver naquela situação?", indaga Vladimir. E conflitante é também - para qualquer um - quando Monteiro coloca o "pedófilo" contra a parede e ouve como resposta (ou defesa) para o seu sentimento: "Pode ser que eu goste de crianças, mas eu controlo meu desejo". E é possível condenar alguém por ter desejos?
LIGAÇÕES DO DESTINO
Foram momentos de ausência de André e Vladimir que resultaram neste feliz encontro. André, que já havia trabalhado com Vladimir duas vezes (A Hora e a Vez de Augusto Matraga e Um Pelo Outro), teve o texto apresentado pela sua mulher Patrícia Simões (a psicóloga na peça). Estava atrás de alguém que pudesse fazer o protagonista. Cogitou que devia ser um ator mais velho. Vladimir, que acabara de fazer um blockbuster, o musical Os Produtores, buscava um texto em que conseguisse aprofundar o papel de ator. Algo forte, que exigisse entrega. "Ligava para todo mundo que estava montando algo", conta. Até que um dia atendeu uma ligação de André. "Ele falou sobre a peça e pediu indicações. Até sugeri alguns. Mas quando li, pensei, "sou eu"". E por quê? "Sou pai desde os 21, e a peça fala sobre educação e família; sobre falhas e ausências."
Se Vladimir encontrou o que queria? "Sem dúvida", diz, sob o olhar cúmplice do diretor. "Estou me agradando", completa, com sorriso entrecortado. Não é uma tarefa fácil. "Às vezes, dá vontade de chorar, de ver o quanto a gente é incapaz", diz Vladimir. Para André, "teatro não é só para rir": "É uma contribuição que faço à sociedade". Contratado da TV Globo, o ator sabe que deve ser escalado para algum projeto em 2010. Mas quer aproveitar o palco. "Hamelin é um jogo de cena contemporâneo que retoma o instrumento mais antigo do teatro: o poder da palavra." Para Vladimir, a peça merece ser levada a "pontos inimagináveis do País". Já tem garantida passagem por Fortaleza e temporada no Rio. "É meu espetáculo mais necessário", corresponde o diretor. A rasgação pode soar clichê. Ao vivo, faz todo sentido.
Em tempo, André já rascunha novo projeto, idealizado antes até de Hamelin. O tema? A história real de uma menina que acusou o pai de abuso sexual, mas tentou voltar atrás, sem sucesso, quando ele já havia sido condenado. Vem (outra) provocação das boas por aí.
* publicado originalmente no Caderno 2, do Estado de SP, do dia 18/11/2009
sábado, 31 de outubro de 2009
direto da mostra
o longa 'bollywood dreams - o sonho bollywoodiano', de beatriz seigner, com nataly cabanas, paula braun e lorena lobato, está na final do troféu bandeira paulista da mostra de cinema.
domingo, 25 de outubro de 2009
cabeças amarelas

Lembro-me da primeira vez que tive contato com os trabalhos dos irmãos gêmeos, Otávio e Gustavo Pandolfo. Foi com a Dri e a Bonelli, numa tarde de sábado. Eles estavam com uma individual na Fortes Vilaça. Gostei daquelas cabeças amarelas e achatadas de imediato. De volta à cidade, além das intervenções urbanas que a prefeitura não apagou, eles inauguraram ontem 'Vertigem', no Museu da Faap. E mostram que a marca osgemeos não cansa de se renovar. Ou será que é preciso renovar? Ainda que se atualizem, as características fundamentais do seu trabalho permanecem. Ao som de Siba na abertura, ficava ainda mais claro o quão Brasil e regional são seus trabalhos. Mas a viagem desses irmãos também é urbana, como mostra a foto acima, um dos trabalhos expostos. Um trabalho de respeito.
um dia de Tremendão
Há duas semanas me encontrei com Erasmo. E desde o instante que pensei na possibilidade de vê-lo ao vivo me lembrava dele. Das fotos com as calças boca de sino, o cabelo desgrenhado, o óculos meio John Lennon. Um hippie parado no tempo. Estar de frente com Erasmo era ir de encontro ao passado. Uma sensação de viver com ele os anos 60 e 70...
Aos 68 anos, Erasmo fuma um cigarro atrás do outro. Me pergunta se me incomodo. Digo que não. "Essa cidade está ficando um porre com esse monte de lei", falo, numa expectativa de quebrar o clima. E ele me diz que "é bicho, está complicado". E mais uma vez penso que "caceta, é ele".
Conversamos sobre sua volta às guitarras e as diferenças com Roberto. No ano em que só se falaram dos 50 anos do capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, ele lembra que "curioso como tanta gente dessa cidade cruzou meu caminho". Diz que os seus 50 anos serão comemorados no ano que vem. Comemorados como? "Não sei. Eu não tenho que comemorar nada. Vou esperar me chamarem. O Roberto não fez nada, quem fez foi o Itaú".
Erasmo recorre invariavelmente ao assistente que o acompanha há tantos anos na turnê sempre que sente que falou algo bonito, que poderá ser utilizado outrora. É uma piada interna. "Anota aí", ele diz umas quatro vezes. Debochado, como ele... Acha interessante quando diz que "o tesão no palco é como uma mulher nova". "Anota aí", repete.
O Tremendão aponta o dedo na cara da geração mais nova. Diz que "hoje ninguém mais desafina" e que "a tecnologia prostituiu a emoção". Falta-lhes vivência, pondera. "Essa geração não canta o que sente ou o que viveu". Rebato que, portanto, hoje ele escreve melhor do que seus 20 e poucos anos. Acuado, solta apenas um "não sei". Mas reconhece que os trancos da vida lhe tiraram a tal ingenuidade. E não só. Diz que sente saudades da época em que a parte física e mental andavam em conjunto.
Lembrou de Raul, Tim Maia, Ben Jor, e, claro, o amigo de fé e irmão camarada, o Rei. Brinca que se juntassem todos eles estaria formado o Beatles brasileiro. E volta atrás, logo em seguida. "Não ia durar muito tempo. Ia ser um duelo daqueles...".
Eu agradeço a entrevista. Peço para registrar aquele momento. E lembro a ele que era um prazer entrevistá-lo. Era como se estivesse diante da figura que mais me lembra ele. Meu pai. E, de certa forma, estava.
pensamentos de luiza

"Mas às vezes um revés é apenas um revés. É comum ficarmos sem compensação nenhuma para um desastre, uma agressão, um erro, uma doença, o fim de um amor, a perda de uma pessoa amada. É uma questão de perspectiva, ou de fé. Nascemos com um prazo limitado para interpretar o mundo. Fazemos o que podemos. O legado de todos que nos precederam nesse esforço pode ajudar ou confundir, e em última instância ninguém nunca prova nada. Atribuir um propósito superior a um lance qualquer da vida é construir uma ficção muito pessoal. Dar sentido ao mundo é um ato criativo. Uma visão de mundo é uma narrativa".
(trecho de 'Cordilheira', de Daniel Galera)
terça-feira, 20 de outubro de 2009
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Feira eleitoral
viver a vida
sofisticado é ser simples
"e mesmo que falte a coragem, ou sobrem, sobrem palavras tolas/ a gente pode rir, ou até mesmo chorar"
Dói - Letra e música: Fernando Catatau (Cidadão Instigado)
coisas de um feriado
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
indicação
reportagem de CLARA BECKER na edição de outubro 2009 da Revista PIAUÍ sobre Marinete, a depiladora de elite. Vale também ler o perfil de José Serra, pela jornalista Daniela Pinheiro. Segue abaixo uma amostra da reportagem da concorridíssima Nete.
"É aqui mesmo?", perguntou o motorista. O táxi tinha parado diante de uma birosca, ao lado de um beco, da estrada Santa Marinha, ao pé da favela Vila Parque da Cidade. Era lá mesmo. Dali para a frente, a cantora Nina Nunes teria que subir o morro a pé, que tem uma fronteira imprecisa e porosa com o bairro da Gávea, na Zona Sul carioca. Pela primeira vez a cantora galgou os degraus de cimento que serpenteiam pela Vila Parque adentro, formando um labirinto errático de ruas asfaltadas e prédios (que pagam o iptu) e vielas entupidas de barracos (irregulares e ilegais).
Nina Nunes ia à casa da Nete. Lá em cima da Vila Parque, como cá embaixo no asfalto, incluindo endereços de iptu mais caro do Rio, Nete é um nome que abre muitas portas e pernas. Fora do morro, suas freguesas, por mais famosas ou abastadas que sejam, lhe confiam segredos que não abrem nem para psicanalistas ou para revistas de celebridades.
Nete é Marinete Campos, uma depiladora de mão cheia, dona de uma agenda que é um verdadeiro quem-é-quem na selva de virilhas da alta roda carioca. Seus preços são cabeludos, mas ela cobra só a metade das clientes que se disponham a subir o morro. E Nina estava precisando de uma boa poda nos gastos. Nete, que é também manicure e pedicure, atendeu-a em seu apartamento com chão de tábuas corridas e móveis de madeira clara da rede de lojas Tok & Stok.
Pior, disse a cantora, seria passar pela experiência excruciante em mãos menos hábeis. Entre um gemido e outro, Nina contou a Nete durante a sessão que estava numa fase de aperto. Sua pequena empresa acabara de quebrar e ela juntara dívidas. A depiladora ofereceu-lhe, na hora, um empréstimo de 10 mil reais, com prazo a perder de vista e sem juros. Nina recusou a oferta. E Nete, uma mulher de 43 anos e cabelos castanhos alisados, com a aparência de quem já teve uma vida dura, e o leve excesso de peso de quem agora leva uma vida farta, honrou a fama de ser bem mais que uma prestadora de serviços supérfluos.
"Todas elas desabafam", disse a fada do mel. Durante as sessões, elas comentam, sobretudo, problemas com marido e filhos. Quando a conversa escorrega para dificuldades financeiras, Nete sempre se oferece para ajudar. "Já peguei muito dinheiro emprestado com as clientes", explicou, "mas hoje eu também empresto dinheiro para elas, inclusive para gente famosa." Seu tom, nessas ocasiões, não é o de quem fala da vida alheia, e sim de quem trata de investimentos e negócios.
E os negócios, no seu frondoso ramo, se desenvolvem na velocidade do desmatamento da Amazônia. É o que informa a oitava edição do livro Depilação: o Profissional, a Técnica e o Mercado de Trabalho, de Ateneia Feijó e Isabel Tafuri, editado pelo Senac. Ele esclarece que a depilação "já conquistou o seu lugarzinho, por menor que seja, na história da economia deste país". Tornou-se "coisa séria e valorizada". Por isso mesmo é uma arte vedada a qualquer manicure "que queira sair por aí arrancando pelos a torto e a direito". "Não, não e não", proclama o manual.
No Rio, formam-se por ano 1 200 depiladoras só no curso do Senac. Elas competem por salários de, em média, 1 500 reais por mês. Mas Nete já deixou essa mata espessa há muito tempo. Ganha quatro vezes mais que a tabela. Tem quarenta clientes de fé, que pagam 70 reais por seus serviços de manicure e pedicure. E cobra 140 reais pela depilação do corpo inteiro, tosa que inclui sobrancelha, buço, axila, perna e virilha.
Suas tarifas, às vezes, oscilam para o alto: "Quando não gosto de alguém, jogo o preço lá em cima, cobro 150 reais só a mão. Se aceitarem, eu vou, dinheiro não leva desaforo para casa." Oscilam também para baixo porque ela concede abatimento de 50% a jovens que bancam a depilação com mesada. E oscilam conforme a distância: Nete cobra 500 reais pelo "serviço completo" na atriz Ana Paula Arósio, que mora na praia de Grumari, a uma hora e meia da favela Vila Parque.
Sua caderneta tem cantoras como Preta Gil e Marina Lima, atrizes como Glória Pires e Carolina Ferraz, famílias como a Marinho. Mais longe do que ela só foram as J. Sisters, irmãs capixabas que apresentaram às nova-iorquinas o brazilian waxing, complemento natural, por assim dizer, do biquíni cavado - outro produto de exportação da moda brasileira.
O brazilian waxing, jeitinho brasileiro de conter os pelos pubianos nos limites estritos dos mais exíguos triângulos de pano, emplacou na língua inglesa como um neologismo já devidamente dicionarizado pelo Oxford. Na Wikipédia, ele conquistou um verbete minuciosamente ilustrado e que, como o assunto em si, não esconde nada. Com salões em Manhattan, pioneiros na disseminação no exterior da técnica nacional, as J. Sisters ficaram milionárias.
Nete não pode se queixar. Tem uma cobertura duplex na favela com três suítes, terraço, sala de televisão e paredes decoradas com pratos da Confraria da Boa Lembrança. Tem um Fiat Idea novinho na porta e uma empregada doméstica na cozinha. Sua geladeira é daquelas que despejam gelo no copo sem abrir a porta.
dialecto urbanus
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
uma vodca, por favor?
a violência a serviço do drama de andréa

O filme 'Salve Geral', que estreia sexta (2) nos cinemas, antes de tudo é um melodrama. Não é o tal filme que retrata os atentados do PCC, como se tem dito por aí. É, sobretudo, um filme de Andréa Beltrão. Depois de 'Verônica', é ela quem novamente sobressai no novo longa de Sergio Rezende (de 'Zuzu Angel'). E mostra um poder de atuação que a coloca entre as melhores atrizes do atual cenário brasileiro. A mulher escrachada de 'A Grande Família' ou de 'As Centenárias' se sai com igual maestria em papeis dramáticos. Aqui, em 'Salve Geral', o filme escolhido pela Secretaria do Audiovisual para tentar uma vaga no Oscar, Andréa Beltrão é Lúcia, uma viúva professora de piano que tenta a todo custo tirar o filho da prisão, acusado de assassinato. Em meio a luta, Lúcia conhece Ruiva (Denise Weinberg em ótima atuação). Ruiva é advogada de um dos manda-chuva do PCC. Sem dinheiro, Lúcia alia-se a Ruiva e se envolve com o crime - até romanticamente. E onde entra os atentados que paralisaram São Paulo em maio de 2006? O caso aparece na reta final da trama, em cerca de 25% do filme. O "11 de setembro" dos paulistanos aparece no trânsito caótico, na cidade vazia ainda no início da noite e nos noticiários. Revela ainda o acordo realizado entre secretário de governo e bandidos para interromper o estado de sítio que a facção criminosa impôs. É um filme de qualidade, que pode provocar dúvida em quem já está saturado da onda de cinema violento - Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite e Última Parada 174. Mas vale a ressaca. Andréa Beltrão é um excelente engov.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Escolhas tortuosas
Desde que vi o trailer, fiquei curioso pela nova trama de José Eduardo Belmonte. O teaser de "Se Nada Mais Der Certo" mostrava de antemão que a violência (tão explorada no nosso cinema) ali não seria gratuita. Que Belmonte saberia criar uma trama de ficção com emoção e tiros na dose certa. Veio a estreia no início de agosto e fui adiando os planos, por falta de tempo, de companhia, de atitude. Ontem resolvi encará-lo. Havia apenas uma sessão no HSBC, às 14h30. E renunciei à vontade de curtir o sol, para me livrar dessa 'pendência' pessoal. Fui sozinho, sem lembrar ao certo o que iria ver. Belmonte e 'Se Nada Mais Der Certo' foi uma boa surpresa. Um cinema brasileiro de poucos recursos e de história contudente. Um drama peculiar, que tem sarcasmos, tem política, tem diversas verossimilhanças. Ao centro, Cauã Reymond, Caroline Abras (Marcin? Marcinho ou Marcinha?) e João Miguel despontam como três frustrados que lutam pela sobrevivência. A princípio, cada um a seu modo. Depois, unidos pelo 'fim da linha', iludidos por uma nova escolha. Luiza Mariani convence com sua anorexia esquizofrênica. Uma soma de virtudes coloca 'Se Nada Mais Der Certo' como um dos mais interessantes filmes nacionais que assisti nessa atual produção. E não que eu seja contra a violência nua e crua, como os brilhantes 'Cidade de Deus' e 'Tropa de Elite'. Mas aqui ela está na classe média, sendo utilizada em dramas particulares de fácil identificação. Um belo drama nacional.
domingo, 27 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
no samba me criei
depois de um belo samba conferido ontem no ó do borogodó, o clima hoje é de batucadas, mão ao alto, canção no gogó. e uma leve dor de cabeça, claro.
domingo, 20 de setembro de 2009
paris em londres
Tiê, uma das revelações já comentadas por aqui, fala coisas no palco sem o menor embaraço. Ela já disse, com mãos na barriguinha, que grávidas além de sensíveis ficam burras (oi?). Mas essas pérolas, como tantas outras já soltadas, se tornaram características e cativam (!) a plateia. Para falar deste clipe acima, ela explicou em cena que ele havia sido rodado em Londres e não em Paris como ela queria (e combinaria com a situação). "Mas, ah, pelo menos é internacional". Então tá.
paulinho na justiça

Nova confusão na área com Paulinho da Viola. Depois do rolo do cachê (Paulinho reclamou que havia discrepância de valores com relação aos demais artistas em um show numa praia carioca), o sambista é alvo de uma ação judicial da gravadora por quebra de contrato.
"A BMG ajuizou ação na Justiça alegando quebra contratual entre o artista e a empresa. De acordo com o processo, Paulinho e a gravadora assinaram, em outubro de 2007, um contrato de agenciamento exclusivo de carreira artística, direito de uso de imagem, som de voz, entre outros. Porém, após os shows realizados entre 10 e 19 de julho no Canecão, o cantor não repassou o valor devido à BMG, que havia lhe adiantado a quantia de R$ 400 mil. Para os desembargadores, o contrato em questão estabeleceu um regime equilibrado de direitos e obrigações entre a empresa agenciadora e o artista, já que este não se encontrava impedido de buscar oportunidades de espetáculos para apresentar-se, desde que a contratação se formalizasse através da ação da agenciadora".
Ainda segundo o processo, foi determinado o bloqueio de 20% da renda dos shows realizados no Canecão. Diante de tudo isso, curiosamente a gravadora tenta atenuar a situação. Em nota, afirma que "o contrato da empresa com Paulinho da Viola permanece em vigor e ambas as partes continuam a despender seus melhores esforços no sentido de dar continuidade à carreira desse grande artista. A existência do processo é meramente circunstancial e transitória estando sob análise do poder judiciário carioca". Vai entender...
Em tempo: Paulinho faz show por aqui, no Citibank Hall, de 16 a 18/10.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
na pista
nova homenagem ao showman patrick swayze, que morreu ontem. em uma das melhores cenas de dança do cinema. um clássico.
só a whoopi salva
pequena homenagem a um dos filmes (e trilha) mais reproduzido na Globo e tantos outros canais pagos. Anteontem, curiosamente, me prendi a um deles e vi os trechos finais da história maluca do cara que morre, mas continua aqui, incorpora na Whoopi Goldberg e vê seu melhor amigo querer levar a ex-mulher (e todo o dinheiro). Um dia depois, o 'ghost' Patrick Swayze morre. Alguém viu a Whoopi por aí?
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
a abertura
recomendo ver na íntegra no cinema. mas àqueles amigos preguiçosos que eu sei que não vão 'até lá', fica o prólogo de anticristo.
as últimas duas semanas
Estreia dia 28/10, nos EUA, e dia 30, no Brasil, o documentário 'This is It' sobre a turnê homônima', que o mundo inteiro esperava ser a retomada de Michael Jackson (ou pelo menos sua recuperação financeira). O Rei do Pop morreu. Fica o registro.
AC/DC - Confirmado
O blog já sabia na semana passada, mas esperou a confirmação oficial. A própria banda anunciou hoje em seu site oficial (www.acdc.com) a vinda ao Brasil. Data: 27/11. Local: Estádio do Morumbi. Valores: a confirmar. Início da venda de ingressos: 1º/10.
porque von trier é foda

O primeiro filme que assisti de Lars Von Trier foi 'Dançando no Escuro'. Muitos fãs vão me achincalhar, mas eu não consegui gostar - muito por conta daquele chororô intermitente da Björk (do qual só me recuperei após o carnavalesco e bom show dela aqui no Tim Festival). Quando fui ver 'Dogville' tinha, portanto, um pé atrás. Saí ao final impressionado. Todo encenado em um teatro, sem cenários (paredes), a trama estrelada por Nicole Kidman me deixou embasbacado. Novamente, Von Trier colocava o dedo em riste para jogar na cara valores éticos e morais deturpados. Assim foi com Manderlay, em uma escala menor (ainda prefiro Nicole).
Ontem fui ver ao seu mais novo e polêmico 'Anticristo'. Desta vez, o diretor envereda para um terror psicológico que aflige e perturba o espectador. O drama de uma mulher que perde o filho e tenta se curar com o marido terapeuta é claustrofóbico. Von Trier reconheceu que 'Anticristo' foi uma terapia para ele mesmo - o dinamarquês estava no auge da síndrome do pânico.
Charlotte Gainsbourg (divinamente no papel da mulher e merecidamente premiada em Cannes) chegou a afirmar que no set o receio era latente de que Von Trier abandonasse as gravações a qualquer momento. O sofrimento 'dela' em cena serve de espelho ao seu próprio criador.
Charlotte e Willem Dafoe protagonizam o longa brilhantemente. Há cenas fortes e aterrorizantes - a mutilação do clitoris e a porrada que ela dá no pau do cara, para em seguida masturbá-lo até o jorro de sangue, são de fato muito fodas (para ficar apenas nessas).
'Anticristo', porém, não é apenas um choque gratuito. Von Trier faz no prólogo e no epílogo uma das cenas mais lindas que já vi no cinema. Sobretudo faz uma digna e relevante reflexão sobre o sentido da vida. Até onde podemos ir. E o que em nossa volta realmente importa. O quão estamos apenas a passeio diante de algo que tanto valorizamos: a vida.
salve, salve
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
ecos na manchete do correio popular
Oito anos após assassinato, Ecos resgata obstinação do prefeito
Rose Guglielminetti
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
rose@rac.com.br
O desespero de uma família para encontrar respostas. As justificativas de autoridades para dar essas respostas. Acusações do descaso da polícia. Um assassinato que foi “apagado” após o ataque terrorista às torres gêmeas nos Estados Unidos. Promessas que não foram cumpridas. Traição e abandono. Dor e impotência. Uma filha sem o pai. Uma mulher sem o marido. Uma mãe sem o filho. Um irmão sem o irmão. Uma cidade sem o seu prefeito.
Todos esses capítulos estão em uma produção que poderia ser de ficção, mas é um documentário com personagens reais e depoimentos que revelam frustração. Ecos é um filme que conta a trajetória de um campineiro obstinado, um arquiteto com os olhos voltados para o planejamento urbano, um homem que se preparou para ser prefeito, mas uma bala fez com que ficasse na principal cadeira do Palácio dos Jequitibás apenas nove meses. Ecos conta a história de Antonio da Costa Santos (PT), prefeito de Campinas, assassinado no dia 10 de setembro de 2001, crime que completa oito anos de uma investigação com mais perguntas do que respostas.
O documentário de Pedro Henrique França e Guilherme Manechini refaz a trajetória de vida de Toninho quando ele ainda atuava na Assembleia do Povo, passa pela sua luta pela preservação do patrimônio histórico de Campinas, conta a sua eleição para vice-prefeito na chapa encabeçada por Jacó Bittar (então PT, hoje no PSB) e o rompimento com o então prefeito, além de mostrar as ações na Justiça contra empreiteiras. O documentário traz imagens de suas campanhas eleitorais, a falta de apoio de militantes do PT em alguns pleitos, a sua quase expulsão do partido na briga contra Bittar e a sua vitória em 2000, dessa vez, com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o seu assassinato em 2001.
Mas os depoimentos apenas retratam os fatos, sem qualquer novidade além do que já foi noticiado até hoje pela mídia. Mostram os “furos” da polícia na investigação, o desespero da família pela condução equivocada na apuração do crime e a frustração por ver que os caciques do partido, inclusive Lula, nunca se esforçaram para tentar encontrar as respostas que ainda dão nó na garganta dos parentes de Toninho. “Achava que teria apoio de Lula, apoio que ele prometeu em comício com mais de 20 mil pessoas, mas nunca veio. A Polícia Federal nunca entrou no caso. Virei persona non grata no PT”, reclama Roseana Garcia, viúva de Toninho.
A família sempre defendeu a entrada da PF no caso — a Polícia Civil diz que o prefeito morreu porque estava no lugar errado e na hora errada, e a família e amigos acreditam piamente que foi um crime político. Para a polícia, quem matou Toninho foram os integrantes da quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. Os tiros teriam sido disparados porque Toninho atrapalhava a fuga do bando. A arma do crime nunca foi encontrada. A Justiça, porém, não aceitou a denúncia e quer mais investigações. “Está tudo parado”, lamenta Roseana.
Os cineastas procuraram ouvir todos os envolvidos direta ou indiretamente no crime. Entre os amigos ligados à vida pública, há depoimentos de Gerardo Melo, Durval de Carvalho, André Guimarães e Nilson Lucílio. Da família, há depoimentos de Roseana; da filha, Marina dos Santos; do irmão Paulo Roberto dos Santos e da mãe, Clemência dos Santos. O caseiro Léo também é ouvido na Casa da Tulha, onde Toninho morou. Ele conta que costumava dizer: “O senhor nasceu com esse destino (ser prefeito)”.
Da Polícia Civil, são ouvidos o delegado seccional Osmar Porcelli, responsável pela investigação nos primeiros meses; Luiz Fernando Guimarães, então delegado da Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e Marco Antônio Petrelluzi, ex-secretário estadual de Segurança. Os promotores Fernando Vianna e Ricardo Silvares, que ofereceram a denúncia apontando a autoria do crime à quadrilha de Andinho, explicam por que chegaram a essa conclusão. Também há depoimentos de jornalistas que cobriram o caso, como o da repórter do Correio na época e hoje secretária de redação Zezé de Lima. Há também depoimentos de dois dos quatro acusados pelo assassinato — Flávio Menezes, o “Flavinho”, e Globerson Luiz Moraes da Silva, o “Gro”. “Falei que era eu porque não aguentava mais apanhar”, disse Flávio no filme.
Para muitos dos personagens, Toninho ainda foi prejudicado pelos ataques às torres do Word Trade Center dia 11. Tanto que vários jornalistas da mídia nacional que estavam pautados para a cobertura do velório reconheceram que o assunto perdeu valor quando foram divulgados os ataques. “Se não tivesse tido o 11 de Setembro, a mídia teria explorado mais e a pressão (pela investigação) seria maior”, afirma Roberto Cabrini, hoje na Record.
Mito ou vaidade?
E um dos momentos mais tensos do documentário é justamente o depoimento do promotor Silvares, que afirma que “é um mito achar que Toninho foi assassinado porque mexeu com interesses empresariais”. “Ele só teve nove meses (no poder). Apenas o contrato do lixo teria algo e mesmo assim são relatos de uma testemunha que ouviu alguém dizer algo”, disse. A irritação de Roseana é transparente quando os cineastas mostram essa cena para ela. “Como ele não mexeu com interesses? Toninho tinha processos contra construtoras, contra o Quércia (Orestes Quércia, PMDB, ex-governador de São Paulo). Tem que ser investigado. Estamos à mercê da vaidade da Justiça”, lamenta Roseana, endossando a mensagem em faixas espalhadas ontem por Campinas cobrando investigações e dizendo que o crime é político. Ao que completa o então ouvidor das polícias Civil e Militar Firmino Fecchio: “Esse é um caso clássico de negligência e omissão das autoridades do Estado, que estão em dívida com a família”.
As fotos do velório também provocam um nó na garganta. E até os mais resistentes podem não resistir às lágrimas ao ouvir o último recado deixado por Toninho na secretária-eletrônica do celular de sua única filha, na época com 14 anos, no dia em que foi assassinado, o último que recebeu do pai: “Marina, minha filha. Orgulho da minha vida. Pessoa que mais adoro em 6 bilhões de habitantes”. Até hoje, essa voz é guardada como um tesouro e, de tempos em tempos, ouvida para matar a saudade.
PONTO DE VISTA
Roseana Garcia
Psicóloga, viúva de Toninho
Memória recuperada
Desde que Antonio morreu, venho lutando para obter respostas e sempre desejei que houvesse um registro de todos os fatos que cercaram o seu assassinato. A atuação da polícia, o descaso da Promotoria. Queria mais do que isso, queria um registro que mostrasse a trajetória política e o combate à corrupção feito por Antonio, uma bandeira que ele sempre defendeu. Cheguei até a pensar que alguém poderia escrever um livro ou fazer um filme. E, por coincidência, o Pedro e o Guilherme se interessaram pelo tema e fizeram o documentário. Foi o primeiro trabalho deles e de muita qualidade. Tanto que o documentário teve ótima repercussão na estreia, na cinemateca de São Paulo, e teve a qualidade reconhecida pelo festival de cinema
É Tudo Verdade. A maioria das pessoas que assistiu não sabia da trajetória de Antonio e ficaram indignadas e solidárias.
O melhor de tudo isso é que esse filme vai ajudar na minha luta, pois os meninos ouviram muita gente, todos os lados e mostram isso de maneira muito inteligente. Vou percorrer vários bairros de Campinas para apresentar o filme.
A memória de Antonio não pode ser esquecida.
Crime foi ‘apagado’ pelo 11 de Setembro
O principal objetivo dos jornalistas Pedro Henrique França e Guilherme Manechini foi devolver a importância do assassinato de Toninho, apagado pelo 11 de Setembro. “Era uma história interessante e nebulosa que acabou perdendo força com o atentado nos EUA. Não descobrimos nada de novo, mas mostramos todas as faces desse crime, que é um escândalo ficar escondido”, disse França. Ecos, trabalho de conclusão de curso na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), começou por acaso. “A Roseana e a Marina vieram morar em meu prédio (após o crime, elas se mudaram para São Paulo). Acabamos ficando amigos e decidimos que valia a pena trazer essa história à tona.” A coleta de depoimentos, diz, não foi fácil. “A polícia deu muito trabalho e as grandes estrelas do PT. O Zé Dirceu pegamos no pulo em um evento interno do PT. No fundo, o objetivo foi mostrar as várias teses e nenhuma resposta.” (RG/
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
no estadao.com.br
'Ecos', que estreia nesta terça em festival, confronta tese de 'crime comum' com 'assassinato político'
Fernando Martines, de estadao.com.br
SÃO PAULO - Na noite do dia 10 de setembro de 2001, o então prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, foi assassinado a tiros em uma avenida ao lado de um shopping center da cidade. O que seria o acontecimento de maior destaque nacional naquele dia 11, acabou ficando relegado quase ao esquecimento: horas depois do homicídio, Mohamed Atta assumiu o controle do voo 11 da American Airlines e jogou a aeronave de encontro ao World Trade Center. A queda das Torres Gêmeas levantou uma névoa sobre o assassinato do prefeito de Campinas que até hoje não foi dissipada.
Passados oito anos sem esclarecimentos, a história é retomada pelos jornalistas Pedro Henrique França e Guilherme Manechini, no documentário Ecos. O filme, que estreia nesta terça-feira, 31, no festival É Tudo Verdade, em São Paulo, traz depoimentos de Roseana Garcia, ex-mulher de Toninho, Marina Santos, filha do casal, companheiros de militância além de delegados e promotores envolvidos na investigação do caso.
Veja também:
video Entrevista com o co-diretor Pedro Henrique França e trechos de 'Ecos'
Eleito no ano de 2000, com 59,07% dos votos, Toninho comandou Campinas por apenas oito meses. Na noite do dia 10 de setembro do ano seguinte, quando passava por uma avenida próxima ao shopping center Iguatemi dirigindo seu Fiat Palio, o então prefeito foi alvejado por três tiros. Um deles atingiu o coração. Toninho não resistiu e faleceu dentro do veículo.
Ecos recapitula todos os detalhes do caso e reaviva a grande discussão em torno dos acontecimentos: o assassinato de Toninho foi um crime "comum", cometido por criminosos que apenas queriam se livrar de alguém que atrapalhava sua fuga ou teve alguma motivação política?
O documentário de Pedro Henrique França e Guilherme Manechini mostra que a família repudia a versão apresentada pelo Ministério Público de crime "comum". Em entrevista ao estadao.com.br, Marina afirma: "Eu e minha mãe (Roseana) não temos dúvidas que a motivação do assassinato do meu pai foi política". O filme traz depoimento de Nilson Lucílio, secretário de finanças do governo Toninho, que garante que, antes de ser assassinado, o ex-prefeito mexeu com diversos interesses empresariais e políticos da cidade.
Ecos vai em busca das versões de cada uma das partes envolvidas no caso para que respondam questões óbvias, porém até hoje sem esclarecimento. Foi um crime político ou comum? Quem atirou? Por quê? Foi uma coincidência ter sido o prefeito da cidade?
A 1ª versão
No dia seis de outubro de 2001 o delegado Osmar Porcelli, afirmava ter solucionado o caso. O prefeito de Campinas teria sido alvo de um latrocínio (morte durante assalto) cometido por quatro homens que desciam a avenida em duas motocicletas. Logo depois, um homem é preso e confessa o crime. O suposto autor do crime denúncia os três colegas que teriam agido com ele e todos os envolvidos são detidos. Mais tarde, o Ministério Público descartaria a versão dos "motoqueiros" apontando a quadrilha de Andinho como suspeita do crime.
Os documentaristas ouvem os suspeitos de Porcelli, que garantem só ter confessado o crime mediante tortura. O delegado contesta a versão dos acusados e relembra as circunstâncias da confissão. "Não teve tortura. Fiz o interrogatório acompanhado de mais quatro promotores públicos e eles viram que a confissão foi espontânea", garante Porcelli, em depoimento aos documentaristas.
Chacina em Caraguatatuba
Mas um fato novo dá uma reviravolta no caso. No dia 2 de outubro de 2001 é noticiada uma chacina realizada por policias de Campinas, liderados pelo delegado Marco Manfrim, na cidade litorânea de Caraguatatuba. Foram mortos quatro criminosos da cidade do interior paulista. Entre eles estavam Anso e Valmirzinho, membros da quadrilha de Andinho, o mais temido traficante de Campinas.
A chacina levanta suspeitas quanto ao envolvimento de policiais no assassinato do prefeito de Campinas. Por que os supostos assassinos do prefeito Toninho foram executados, e não presos, por policiais? O ouvidor da polícia Fermínio Fechio atenta: "É gente que se estivesse viva, talvez pudesse dar algum esclarecimento em relação ao homicídio do prefeito".
"Roteiro" surreal
Em janeiro de 2002, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo passa o caso de Toninho para a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Novos depoimentos são colhidos. Surge a versão de que Andinho e mais três membros de sua quadrilha (Anso, Fininho e Valmirzinho), abordo de um Vectra prata, teriam sido autores dos disparos.
Mas qual foi o motivo para que atirassem no prefeito? Para o DHPP, foi um "crime comum": Andinho e membros de sua quadrilha desciam uma importante avenida em alta velocidade. Coincidentemente, o único veículo que não abriu caminho foi o do prefeito da cidade, dirigido pelo próprio. Assim, por atrapalhar a passagem de Andinho, Toninho foi morto com três tiros.
Embora a motivação tenha ficado nebulosa, o MP e o DHPP não têm dúvidas quanto a autoria. "Por exames periciais e provas testemunhais se chegou a conclusão de que o crime foi praticado por Andinho e os membros de seu grupo", garante o promotor Fernando Vianna, em depoimento colhido por França e Manechini. Em junho de 2002, Anso, já morto, foi apontado como autor dos disparos. Andinho foi indiciado por participação no homicídio.
Motivação política
As autoridades nunca relacionaram o assassinato de Toninho do PT a alguma motivação política. No filme, entretanto, Nilson Lucílio, secretário de finanças do governo de Toninho, lembra que ex-prefeito bateu de frente com diversos setores quando comandava a cidade. "Reduzimos o contrato de merenda escolar em 40% do valor. Locação de carro, reduzimos o valor em 30%, vigilância em 40% e o lixo em 30%."
Roseana, a viúva de Toninho, enumera as brigas judiciais que seu ex-marido havia comprado durante os 20 anos de atuação como homem público. "O Antônio tinha processo contra Mendes Júnior, Camargo Corrêa, Quércia. Antônio moveu ação popular contra Norberto Odebrecht", diz ela, para provocar: "E ele nunca mexeu com interesses empresariais?"
Reabertura das investigações
Em setembro de 2007, as investigações foram reabertas. Marina Santos, filha de Toninho, afirma não se tratar de um grande alento. "As investigações serão conduzidas pela Polícia Civil, a mesma que apresentou a tese rejeitada pelo juiz Torres. Isso não irá mudar nada", afirma Marina em entrevista ao estadao.com.br.
O que mãe e filha desejam é a entrada da Polícia Federal no caso. No início de 2008, Roseana conseguiu uma audiência com o ministro da Justiça, Tarso Genro, que lhe disse que colocaria a PF para investigar a morte de seu marido. Marina afirma que o requerimento para que a Polícia Federal comece a agir está "debaixo de um pilha enorme".
"Isso terá que ser avaliado ainda, vai demorar. Caso o Tarso Genro determinasse, a investigação começaria na hora", reclama a filha de Toninho.
Andinho
Andinho segue preso na Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes, respondendo por outros crimes, a maioria de sequestro.
É Tudo Verdade - Ecos, de Pedro Henrique França e Guilherme Manechini
São Paulo: Cinemateca - Terça (1/9), às 20h30; sexta (4/9), às 14h30
Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles - sábado (5/9), às 14 horas; domingo (6/9), às 20 horas